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Uma rara coleção de Frans Post

Óleos do artista fazem parte de mostra que retrata a História do Brasil holandês

Por Camila Molina
Atualização:

O quadro Forte Frederik Hendrik (1640) é uma das sete obras que o holandês Frans Post (1612-1680) pintou em solo brasileiro. Membro da comitiva que o alemão Mauricio de Nassau trouxe no século 17 para o Nordeste do Brasil, para os territórios conquistados, até então, pela Companhia das Índias Ocidentais, Post apenas pintou in loco sete quadros - os tantos outros ele fez na Holanda mesmo, depois de sua volta, em 1644. O Forte Frederik Hendrik é, portanto, obra valiosa. Pertence à coleção do empresário pernambucano Ricardo Brennand, um dos maiores colecionadores de obras de Frans Post no Brasil, dono de 18 quadros do artista. E agora esse quadro poderá ser visto em São Paulo, na mostra O Instituto Ricardo Brennand e o Resgate do Brasil Holandês, que será inaugurada hoje à noite para convidados e amanhã para o público na Galeria de Arte do Sesi, no Centro Cultural Fiesp. A exposição tem dois propósitos: ser uma amostra do perfil da ampla coleção de arte do empresário pernambucano, que criou, em 2002, no bairro da Várzea no Recife, um instituto sem fins lucrativos para apresentar as obras que coleciona há mais de 50 anos; e ser, como diz o título da mostra, um resgate da passagem e dos feitos dos holandeses no Brasil durante o século 17, quando parte do Nordeste se transformou em colônia da Holanda sob o governo, em Pernambuco, de Maurício de Nassau, escolhido pela Companhia das Índias Ocidentais para tal missão. A exposição, que reúne 224 peças no total, é dividida em três partes: a primeira, abrange a armaria, coleção de armas e armaduras de Brennand; a segunda; uma seleção de pinturas (a maioria de nus acadêmicos) e esculturas indicando mais um pouco sobre o perfil do acervo particular em questão; e a terceira, a mais importante, sobre a história do Brasil holandês e a arte da época de Nassau. A armaria, a primeira paixão de Ricardo Brennand, abre a exposição. ''''É uma coleção vastíssima, feita há mais de 50 anos'''', diz Maria Lúcia Montes, da curadoria e coordenação da mostra, ao lado de Maria Ignez Mantovani (Elly de Vries assina a curadoria científica). Como conta Maria Lúcia, todo o acervo começou com um canivete que Ricardo ganhou de seu tio, também chamado Ricardo, ''''o grande incentivador'''' e pai do artista Francisco Brennand. Desde então, o empresário começou a comprar ''''armas brancas'''' ocidentais e orientais na Europa (dentre tantas teorias, uma delas é a de que o termo arma branca está relacionado à forja do objeto, com o brilho do metal durante esse processo). O núcleo da armaria se tornou o maior de sua coleção. As armas mais antigas presentes na mostra são datadas do século 15. ''''Sempre vem à cabeça o imaginário medieval por detrás dessas armas, mas a maioria delas é dos séculos 16 e 17 até as feitas no século 19. Até o século 17 essas armas eram usadas. Com a modernidade, elas se transformaram em obras de arte'''', diz Maria Lúcia. Dentro do grupo de armas usadas em guerra e em caças, há armaduras (tanto para homens, cavalos e até para um cachorro), adagas e espadas (algumas ornamentadas com ouro e pedras preciosas), por exemplo. Depois das armas e de alguns quadros e esculturas que revelam o gosto do colecionador, chega-se ao núcleo sobre a presença holandesa no Brasil. O quadro Forte Frederik Hendrik é 1 das 13 telas feitas por Frans Post presentes na exposição. É uma parte importante da mostra já que Post foi dos principais artistas a representar a paisagem brasileira naquela época. Da comitiva de artistas e cientistas trazidos para o Brasil por Nassau, Post se centrou em retratar a paisagem e outro pintor, Albert Eckhout, se dedicou a representar o povo (fez retratos de negros e índios) e a fazer naturezas-mortas que mostravam as frutas e alimentos encontrados no Brasil. É claro que essas obras eram feitas com o intuito de exibir na Europa o caráter exótico do Brasil, das terras colonizadas nos trópicos. Além das telas de Post, há objetos do período em que Nassau permaneceu no Brasil, quase oito anos, como taças feitas com casca de coco, jogo de talheres, cachimbos, moedas, textos, cartas e imagens. Um grande destaque são as gravuras de Gaspar Barleus, presentes em livro de 1647. Nesse inventário sobre o Nordeste conquistado estão representados mapas e localizações como Olinda, ''''Siará'''' (Ceará), ''''Maragnon'''' (Maranhão) e a Capitania do Rio Grande, por exemplo. Para fechar o conjunto, duas grandes tapeçarias da famosa Manufatura Gobelin francesa, que pertencem à série das Novas Índias. ''''Nassau levou cartões ilustrados por Post e Eckhout para os Gobelin e eles criaram essas tapeçarias. Há o exotismo amplo e geral, são obras realistas, mas ao mesmo tempo fantasiosas, que revelam o olhar europeu sobre uma natureza estranha e selvagem'''', observa Maria Lúcia. Segundo ela, a série das Novas Índias é datada do século 18, mas obras desse tema foram produzidas até o início do século 20. Serviço O Resgate do Brasil Holandês. Galeria de Arte do Sesi. Av. Paulista, 1.313, tel. 3146-7405. 2.ª, 11 h /20 h; 3.ª a sáb., 10 h/ 20 h (dom. 10 h/19 h). Até 25/11. Abertura hoje para convidados

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