Uma nova era chega à Hollywood indiana

Maior produtora de filmes do mundo, Bollywood passa por transição, cujos longas podem ser vistos em mostra que começa hoje

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Por Franthiesco Ballerini
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Mumbai, Índia - A maior indústria de cinema do mundo desembarca hoje pela segunda vez em São Paulo. A Cinemateca Brasileira, em parceria com a Academia Internacional de Cinema, promove a 2.ª Mostra de Filmes de Bollywood até o dia 17 de fevereiro. Uma oportunidade para conferir os maiores sucessos de bilheteria e os filmes que representam a transição da indústria cinematográfica da Índia. A reportagem do Estado foi conferir de perto, com exclusividade, que transição é essa que está modificando a indústria que produz mais filmes no mundo - cerca de mil e 3,6 bilhões de ingressos vendidos por ano. O reconhecimento de Bollywood como indústria pelo governo, em 2000, começou a varrer do mapa indiano o estilo de produção caótico e de estrutura familiar que imperava no país desde o começo do século 20. Amit Khanna, presidente da Reliance Entertainment - uma das mais poderosas multinacionais da Ásia - explica que, durante um século, o cinema indiano se fortaleceu graças a um esquema infalível: produzir filmes baratos, com metade do dinheiro arrecadado pelo produtor para não sair no prejuízo nunca. O que acontecia é que, além de pagar os juros do empréstimo, o produto barato ainda era visto por milhões de indianos que pagavam alguns centavos de dólares pelo ingresso à procura não de cinema de qualidade, mas entretenimento que os tirassem por três horas da dura realidade social da Índia. Assim formou-se a indústria de cinema do país. "Em 2020, 70% da população indiana terá entre 8 e 30 anos, enquanto a China está envelhecendo. Nosso mercado só tende a crescer", diz Amit Khanna. Derek Bose, escritor e maior especialista vivo de Bollywood, é simples e direto sobre esta questão da transição. "Dinheiro não é problema. A questão é que 90% das produções são medíocres e não estimulam o intelecto. A mudança vem porque, com tanto dinheiro no bolso, os produtores agora querem roteiros inteligentes. Estamos numa ?crise narrativa?, em busca de roteiristas criativos", diz. Bose se refere ao que até hoje é a maior crítica ao cinema indiano. Todos os filmes parecem seguir uma mesma fórmula: três horas de duração, com um intervalo no meio, sempre com um herói e uma heroína que cantam e dançam a cada 15 minutos. Nunca há beijo, homossexualismo, violência contra a mulher e problemas sociais baseados na realidade. É o eterno conflito do mocinho querendo conquistar a mocinha ao som de deliciosas músicas indianas. "Antes, um ator fazia cinco filmes por dia, ia de estúdio para estúdio. Hoje isso não acontece mais. Há filmes ousando não ter final feliz, heroínas nem música", diz Bose, referindo-se a títulos dessa transição que podem ser vistos no festival, como Kabul Express - com crítica social sem a presença de heroína.Quem quiser conferir os clássicos pré-transição, a dica é Dilwale Dulhania Le Jayenge, que ficou 10 anos em cartaz e tem música, dança e heróis. A transição, no entanto, está só começando. O cinema indiano ainda é regido por uma forte censura - são seis centros de controle que seguem 32 regras. O país ainda detém só 2% do mercado mundial e a mão de obra é muito mal paga. Mas com tanto dinheiro chegando na Índia, esse painel tem os dias contados para acabar. Serviço 2.ª Mostra de Bollywood. Cinemateca Brasileira. Lgo. Sen. Raul Cardoso, 207. Vila Mariana. 3512-6111. De hoje até o dia 17. Programação no site: www. cinemateca.gov.br. Grátis

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