PUBLICIDADE

Uma nação que vive sem destino

Os Ciganos Estão Ainda na Estrada, de Cristina da Costa Pereira, aborda a história, a cultura e a influência desse povo errante

Por Francisco Quinteiro Pires
Atualização:

Os ciganos estão andando, e não se importam em saber para onde. Certa vez, um aristocrata até perguntou: "Mas, afinal, o que eles querem?", e ouviu a seguinte resposta: "Ir até o fim do mundo e depois voltar." "E é por isso que a culpa sempre é do cigano, porque ele está sempre de passagem", diz a pesquisadora e escritora Cristina da Costa Pereira, que iniciou os estudos sobre esse povo errante ao perceber o preconceito e a desinformação em torno dele. O resultado do seu interesse se chama Os Ciganos Ainda Estão na Estrada (Rocco, 176 págs., R$ 25), que reúne pesquisas de campo e será lançado na Livraria Argumento, no Rio (R. Dias Ferreira, 417, Leblon), às 19 h de hoje. O livro mostra como, apesar da rejeição, esse povo está no inconsciente da cultura ocidental, que recebeu influências nas artes musical, literária, cinematográfica e circense. A história dos ciganos se inicia com um gesto de rebeldia ao sistema de castas indiano que os enquadrava na categoria de párias. O consenso entre os ciganólogos fala que eles surgiram no Noroeste da Índia (atual Paquistão) por volta de 1.500 a.C. Segundo Cristina, estudos comparativos entre o romani (língua cigana) e o sânscrito (língua hindu) provam a origem comum, além dos signos ocultos e da maneira circular de pensar, que aproximam as duas culturas. A dispersão, realizada por motivos pouco claros, começa entre 800 e 1000 d.C. Espalham-se pela Europa no século 15, onde depois enfrentariam a revolução industrial que afetou seu trabalho artesanal e o nazismo que matou meio milhão de ciganos. "Mesmo sem terem pátria, eles resistem", diz. "Foram criados para não criar raízes, tendo o mundo por terra, a liberdade por religião e o céu por teto." Hoje, segundo a Unesco, existem 17 milhões de ciganos no mundo, dos quais 2 milhões são nômades. No Brasil há 500 mil. Em 1979, a ONU os reconheceu como uma nação - apátrida. Embora os artistas os vejam como seres livres, que rompem estruturas sociais, Cristina diz que a sobrevivência desse povo se deveu ao sistema familiar rígido e ao respeito às instituições. "Eles têm forte religiosidade e são monoteístas, mas não existe uma religião cigana", diz. "Eles adotam a religião do país onde vivem e têm uma simpatia pelos santos católicos." A pesquisadora cita o nascimento, o casamento e a morte como os três momentos fundamentais na vida cigana. Uma das principais ciganólogas brasileiras, Cristina da Costa Pereira relata uma história curiosa: embora exista preconceito, o Brasil é o único lugar onde gadjés (não-ciganos) querem se passar por ciganos. A fraude é praticada por aqueles que praticam a quiromancia e a cartomancia, dois dos principais ofícios ciganos atuais ao lado da arte circense, da música, do artesanato e do comércio de cavalos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.