Uma missão possível, ressuscitar Star Trek

J.J. Abrams põe na Enterprise a história de uma amizade, nesta aventura que ganha sofisticação e deve atrair até quem não é fã

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Por Luiz Carlos Merten e PARIS
Atualização:

Guru da cultura ?geek?, criador de Lost, Cloverfield e diretor de Missão Impossível 3, assim a revista francesa Première apresenta J.J. Abrams em sua nova edição, nas bancas parisienses. Abrams acaba de aceitar - e vencer - mais uma missão impossível, a de ressuscitar a série Star Trek (Jornada nas Estrelas). E ele teve sucesso, como você poderá confirmar, assistindo ao filme que estreou ontem nos cinemas brasileiros (e quarta na França). Sem dúvida que faz diferença assistir a Star Trek na maior tela de Paris, a do Grand Rex, numa exibição digital digna do palais do Festival de Cannes. Mas os cinemas de São Paulo não farão feio. Escolha uma tela grande, com som dolby. Abrams joga o público ?dentro? da aventura. E ele vai às origens do mito. Neste sentido, seu filme poderia se chamar Star Trek - Origens, como o Wolverine em exibição (ainda) nas telas de todo o País. Star Trek é melhor. Assista ao trailer de Star Trek O próprio Abrams confessa que ainda se surpreende ao ver seu nome nos créditos finais do filme: Directed by J.J. Abrams, based on Gene Roddenberry series. Realizado por J.J. Abrams e baseado na série de TV de Gene Roddenberry. Ele nunca foi fã da série, nunca foi um trekker, como se autointitulam os milhões de fãs espalhados pelo mundo. Em princípio, deveria ser somente o produtor, tarefa que aceitou, persuadido de que o melhor Jornada nas Estrelas ainda estava para ser realizado, apesar da longa vida da série no cinema, desde que Robert Wise realizou o primeiro filme, por volta de 1980. O roteiro fez com que balançasse. Depois de lê-lo, Abrams ficou persuadido de que sentiria inveja de qualquer diretor que fizesse um filme à altura do roteiro. Mesmo assim, ele enviou o roteiro a seu ídolo, Steven Spielberg. O autor leu, devolveu e acrescentou apenas uma sugestão, ou terá sido uma ordem. "Do it." Faça-o. J.J. Abrams fez. Nunca a promessa de um filme repousou sobre uma premissa tão ousada - o diretor já disse que fez Star Trek para quem não é fã da série ou nunca ficou muito satisfeito com os filmes dela adaptados. Abrams não gostava do formato, muito televisivo, o que incluía os efeitos. Ele queria uma coisa mais viva, mais ?real? (por mais fantasiosa que seja a saga). O filme relata o nascimento do capitão Kirk, a partir do sacrifício de seu pai. Acompanha-o como um jovem transviado do futuro em Iowa, um território mítico do cinema. Você deve lembrar-se de que Dorothy (Judy Garland) segue aquela jornada em busca do mágico de Oz para poder voltar para casa, em Iowa, de onde foi levada por um ciclone. O filme conta a história do nascimento da amizade de Kirk e Spock. O primeiro ator a ser escolhido foi Zachary Quinto, da série Heroes, por sua espantosa semelhança com Leonard Nimoy, o vulcaniano do cinema. Veio depois Chris Pine, o Kirk. É jovem e arrogante, um verdadeiro ladie?s man que não consegue ver rabo de saia. Kirk interessa-se por Uhura, a oficial de comunicação do USS Enterprise, mas ela resiste a seus avanços (e apaixona-se por Spock). Não é por isso, porém, que os dois entram em choque. Kirk e Spock começam como rivais e inimigos na Enterprise. Só após um certo encontro - que é bom não antecipar -, a situação vai mudar. Star Trek vira a história de uma amizade e de uma dupla que se completa, como aquela formada por Sherlock Holmes e o Dr. Waltson (que também está ganhando nova versão, é bom destacar, realizada por Guy Ritchie). Abrams gosta de dizer que ama os clássicos de Hollywood (Alfred Hitchcock, Billy Wilder, George Cukor), mas também a série Star Wars, John Carpenter e os disaster movies. Ele não cita especificamente Stanley Kubrick, mas é uma referência importante para o cinéfilo. Como 2001, Uma Odisséia no Espaço, há mais de 40 anos, o ?realismo? de Star Trek pode estar inaugurando uma nova era na ficção científica. Tudo o que podia ser brega, ou kitsch - mesmo fazendo o charme - na série de TV e nas adaptações anteriores ganha agora uma sofisticação (e um senso hype de ultrarrealidade) como raras vezes se viu. O espectador, mesmo que não seja fã, é convidado a viajar rumo ao desconhecido. Star Trek, de J.J. Abrams, é anterior à série de TV e a todos os filmes que se seguiram. Com todos os seus efeitos é, no limite, a história de uma amizade, de como Kirk vira o capitão da Enterprise mas precisa aceitar que Uhura (Zoe Saldana) termine preferindo Spock. Os franceses, que não são particularmente admiradores da série - ela teve suas piores rendas na França - aplaudiram na quarta. Spock deseja sempre longa vida e prosperidade, ao fazer aquele gesto com a mão. Uma nova longa vida para Star Trek? Serviço Star Trek (EUA/2009, 126 min.) - Ação. Direção de J.J. Abrams. 12 anos. Cotação: Bom

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