Uma garota da pesada

Uma Revolução na Praia, de Joaquim Ferreira dos Santos, é a mais nova biografia da musa dos anos 6O, Leila Diniz

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Por Ubiratan Brasil
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A mulher que hoje exibe com orgulho sua gravidez na praia, que freqüenta bares e botecos sem restrições, que pode soltar palavrões em conversas animadas sem causar espanto, a mulher que, enfim, goza de plena liberdade deveria acender uma vela por noite para Leila Diniz. O conselho é do escritor e jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, autor da biografia Leila Diniz - Uma Revolução na Praia (280 páginas, R$ 39), que a Companhia das Letras envia hoje para as livrarias. Musa da revolução social dos anos 1960, a atriz não precisou levantar bandeira nem queimar peças íntimas para chacoalhar o conservadorismo da época - bastou ser ela mesma. E, se desfrutou bem a vida, também pagou caro por isso. Ao dizer abertamente, com todas as palavras e palavrões, o que a maioria só afirmava às escondidas, Leila, que praticava a liberdade sexual em uma sociedade nada tolerante, despertava amor e ódio. É o perfil dessa mulher que toma contorno a cada página lida (em alguns momentos, devorada) de Leila Diniz. Esqueça, no entanto, aquele relato minucioso, em que cada gesto, cada suspiro, até mesmo o pensamento mais íntimo do biografado é revelado - Ferreira dos Santos dedicou-se durante dois anos e meio a pesquisas e entrevistas, buscando entender a modernidade trazida espontaneamente pela atriz, mas, como bom repórter, privilegiou o retrato da alma. "Conversei com praticamente todas as pessoas que tiveram algum contato com Leila", conta o jornalista que, no início da carreira, chegou a entrevistá-la, o que ajudou a reconstituir com segurança a forma com que a atriz se expressava entre os amigos. Segundo ele, uma fonte valiosa são os diversos diários escritos por Leila, hoje bem guardados pela amiga Marieta Severo. "Diversas editoras já fizeram ofertas para publicar o material, mas Janaína, filha da Leila, ainda resiste em aceitar pois considera muito íntimo o teor dos escritos." Mas o despojamento com que Leila Diniz desfrutou seus 27 anos, vida tragicamente interrompida por um acidente de avião na Índia, em 1972, permitiu com que Ferreira dos Santos entendesse o que representaram os efeitos do furacão Leila, artífice de uma mudança radical no comportamento das mulheres que hoje vivem melhor.

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