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Um território mais intimista nas pinturas de Cristina Canale

Na Galeria Nara Roesler, que também exibe mostra de Fernando Lindote, a pintora carioca apresenta suas novas criações

Por Camila Molina
Atualização:

A narrativa vai ficando mais forte nas pinturas de Cristina Canale, sempre habitadas no terreno entre a figuração e a abstração. ''Saí do muro, fiquei com vontade de me expor mais'', diz a artista, que acaba de inaugurar exposição na Galeria Nara Roesler. Nas pinturas - e desenhos ''de linhas mais soltas'' - realizados entre 2007 e este ano, uma temática mais intimista e afetiva se coloca: o retrato de sua filha estudando música, um pai e sua menina posados para o que poderia ser um retrato de um passeio no zoológico, animais de estimação no interior de espaços domésticos são exemplos das narrativas nas quais a artista trabalhou. Mas elas são apenas situações para, claro, se tratar da pintura. Radicalizando no terreno desse repertório em que a figuração é mais nítida e mais pessoal, como diz a artista, ela vai encontrando novas soluções para as tensões cromáticas e de planos, exercício que sempre é do campo pictórico. ''Não quero que o tema prevaleça acima de tudo'', já define a artista carioca, que vive na Alemanha e é dos nomes que despontaram da chamada Geração 80. Para ela, afinal, o que interessa são os confrontos. ''Gosto de trabalhar em duas bandas: uma que faz a descrição, que é figurativa e entra na especificidade da forma, e outra que é a da pintura. Em paralelo, elas fazem diálogo harmônico e forte'', diz. Dessa maneira, ela já pintou telas em que interiores de casas se misturavam à paisagem externa de colorida vegetação, e esteve em universos mais orgânicos. Agora, nas obras recentes - no ano passado ela fez mostra no Instituto Tomie Ohtake, com trabalhos desse repertório mais familiar e afetivo explorado ultimamente - o fascinante exercício de contemplação sugere ao espectador que ele adentre e se prenda em territórios onde os planos estão mais definidos, ''com mais diagonais para se criar uma espacialidade''; há uso de losangos (que fazem o piso de uma das cenas da tela em que há um cachorrinho) para ''fazer brincadeira de ir e voltar da figura no espaço''; e em que a intensa solução cromática ''fica entre os tons frios e quentes'', enumera a artista. Enfim, como define o crítico Luiz Camillo Osório, a figuração de Cristina é ''sem representação, sem narração, construída a partir de sensações pictóricas e em nome de uma libertação das formas de ver dos modelos achatados de visibilidade''. Ao mesmo tempo, a galeria exibe a mostra Desenho Antelo, de Fernando Lindote. Em pinturas e desenhos, o artista, que também expõe no Centro Maria Antonia, propõe um interessante jogo de contraste entre materialidade e uma raiz conceitual - as obras partiram da apropriação de folhas assinadas em branco pelo escritor Raúl Antelo. Serviço Cristina Canale e Fernando Lindote. Galeria Nara Roesler. Av. Europa, 655, 3063-2344. 2.ª a 6.ª, 10 h às 19 h; sáb., 11 h às 15 h. Grátis. Até 16/8

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