Um sonho que o realizador não pôde concretizar

Sérgio de Assis Brasil morreu antes do lançamento de Manhã Transfigurada

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Foi um sonho que o diretor Sérgio de Assis Brasil não chegou a ver concretizado na tela. Ligado à Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, ele conseguiu convencer o primo, o escritor Luiz Antônio de Assis Brasil, a ceder-lhe os direitos de adaptação do livro Manhã Transfigurada. O projeto decolou em 1997, mas os percalços para conseguir dinheiro foram tantos que a filmagem ocorreu só em 2002, ainda assim dividida em fases, ao longo de mais de um ano. No fim de 2007, Sérgio já tinha um corte do filme que lhe agradava e trabalhava na mixagem quando precisou passou por cirurgia delicada, de câncer de fígado. Sobreviveu à operação para morrer de infecção hospitalar. Veja o trailer de Manhã Transfigurada A equipe que ele reuniu em Santa Maria não desistiu de colocar Manhã Transfigurada na tela e hoje o filme estreia em São Paulo e Porto Alegre. Na capital gaúcha, haverá à noite sessão comentada com o produtor Álvaro de Carvalho Neto, os atores Manoela do Monte e Rafael Sieg e o escritor. O produtor antecipa que se trata de livre adaptação. A época mudou, até como forma de baratear custos decorrentes de reconstituição histórica. O autor já viu o filme (em DVD) e manifestou estranhamento. Gostou mais de algumas coisas, menos de outras. Luiz Antônio é o herdeiro de Erico Verissimo. Como a do autor de O Tempo e o Vento, sua literatura também faz (especialmente na trilogia Um Castelo no Pampa) o relato cíclico sobre as grandes famílias que atravessam décadas da história da formação do Rio Grande. O sobrenome é ilustre. Pertence a uma família que integra a nobreza secular do Rio Grande, ligada à cultura do gado, mas é verdade que Luiz Antônio pertence, como diz, ao ramo pobre dos Assis Brasil. É um curioso sobre a história gaúcha. Seus livros costumam nascer de extensas pesquisas. Um Castelo no Pampa refere-se ao castelo de Pedras Altas, que o político Borges de Medeiros, figura dominante da política gaúcha no século 19, fez construir no interior do Estado. E Cães da Província tem, como protagonista, o dramaturgo Qorpo Santo. A TV Globo comprou os direitos de Cães, mas até hoje não faz avançar a adaptação. É mais uma daquelas operações para empatar que outros o façam. Os romances já adaptados resultaram em filmes sofríveis: Videiras de Cristal virou Jacobina, de Fábio Barreto; Concerto Campestre manteve o título, mas, fora os valores de produção, nada mais há a elogiar no filme de Henrique Freitas Lima; Diário de Um Novo Mundo, de Paulo Nascimento, baseado em Diário de Quarto em Légua, não é muito melhor. Manhã conta história ambientada no século 19. A jovem Camila é forçada a se casar com rico fazendeiro para resgatar a posição social da família. Na noite de núpcias, o marido descobre que ela não é mais virgem e a mantém prisioneira em casa. Camila só pode receber visitas do padre e do sacristão. Surge, a partir daí, um triângulo amoroso que questiona a relação entre fé e razão. Camila é Manoela do Monte, estreando no cinema, antes de seu papel na minissérie A Casa das Sete Mulheres. Beleza e talento não lhe faltam para criar Camila. Serviço Manhã Transfigurada (Brasil/ 2009, 104 min.) - Drama. Dir. Sérgio de Assis Brasil. 14 anos

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