Um ratinho com fome de saber

Aposta da indústria de animação inglesa, o corajoso Despereaux, além de cavalheiro, prefere ler livros a comê-los

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Por Flavia Guerra
Atualização:

Um homem ou um rato? Um cavalheiro. Este é Despereaux, o rato que se recusou a cumprir o destino traçado para ele desde o nascimento. Em vez de comer livros, preferiu lê-los. Em tempos em que todos estavam mais preocupados em obedecer, ele ousou ser diferente. E quem ousa também é a Framestore, produtora inglesa responsável pelo projeto que consumiu anos de trabalho, milhões de libras (não reveladas) e milhares de pinceladas dos artistas que resolveram não só animar, mas literalmente pintar a história baseada no best-seller homônimo de Kate DiCamillo. Assista ao trailer do filme Quem não é fã de animação pode questionar: mais um filme de rato? Exatamente. Ou não. Pois Despereaux é camundongo na verdade. E não um qualquer. Após encontrar um livro e decidir ler a história de heróis, ele começa a ter idéias. "Chegamos a pensar nisso. Que a humanidade já tem ratos demais, não? Há pouco tivemos o fenômeno Ratatouille. E há outros já clássicos como Mickey, Bernardo e Bianca, Toppo Giggio, o Jerry... Há algo de muito próximo entre ratos e homens. De alguma forma, ratos funcionam muito bem para falar de nós mesmos", comenta o diretor Sam Fell, que recebeu o Estado na ?fábrica? da Framestore. Despereaux é o herói improvável que revela ser muito mais que um rato de biblioteca quando a princesa Pea é raptada. Em vez de se esconder como um rato (todos foram banidos do reino de Dor quando a Rainha, mãe de Pea, teve um ataque e morreu ao ver o rato Roscuro, que vai parar na masmorra depois disso, cair na sua sopa), decide resgatá-la. O ratinho só quer provar que aparência não é tudo. Não mesmo. Os mais acostumados às atuais grandes animações da Pixar, podem achar Despereaux um tanto aquém, mas quem preza uma boa "mão artesanal" não vai se decepcionar. Para construir essa fábula medieval, mais que apelar para a tecnologia, os produtores ingleses decidiram apoiar-se também na tradição de se contar bem uma boa e simples, história. Mas sem se esquecer das maravilhas da tecnologia em 3D. Produzido em parceria com a Universal, Despereaux é a aposta europeia em um estilo de animação que parecia fora de moda depois do advento do cinema digital. O tipo que valoriza o traço do desenhista e não só o do mouse (sem trocadilhos). O filme é uma união entre o clássico e o novo jeito de contar histórias para crianças. "Sejam elas grandes ou pequenas, quem for assistir vai entender. Despereaux vive em uma vila medieval, no tempo em que reis e rainhas davam as ordens. E era coerente que fôssemos buscar inspiração em quem retratou essa época. Por isso, fizemos extensivas pesquisas sobre a história da pintura", explicou Fell. Há uma nítida inspiração no mundo retratado pelos mestres da Escolha Holandesa. Os pequenos ratinhos tornam-se menores ainda nas grandes paisagens-cenários do filme. "Esse nível de detalhamento não se vê todos os dias. As animações hoje são ótimas quando se fala de qualidade digital, mas não têm profundidade quando o assunto é pesquisa de estilos. Nós estamos indo além e não só fazendo um filme para crianças, mas também um filme com o qual quem valoriza e conhece a história da pintura também poderá se divertir", contou Fell. O artesanal encontra a indústria quando o assunto é ?dar voz? a essa aventura. Assim, entram em cena as estrelas Matthew Broderick, que dá voz de Despereaux; Dustin Hoffman é Roscuro, o mentor dessa jornada; Emma Watson (a Hermione de Harry Potter) dá voz à princesa Pea. Além de participarem da dublagem e entrar na última fase de produção, os atores tiveram seus gestos e movimentos filmados e estudados. Quem assistir à versão legendada e tiver a curiosidade, pode comparar a semelhança física e gestual entre os personagens e seus dubladores. Serviço O Corajoso Ratinho Despereaux (The Tale of Despereaux, EUA/ 2008, 93 min.) - Animação. Dir. Sam Fell e Robert Stevenhagen. Livre

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