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Um prêmio para fazer história

Coincidência ou não, Spielberg, que negocia com os indianos, sacramentou o triunfo de Bolly em Hollywood

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Logo de cara, na abertura da 81ª festa de entrega do Oscar, o apresentador Hugh Jackman anunciou que a recessão chegou à Academia de Hollywood, que não teve verba justamente para o show inicial. Jackman improvisou, então - imagine se aquilo foi improvisado -, um número cantado e dançado para celebrar os cinco indicados na categoria principal, de melhor filme. O Oscar 2009, para os melhores de 2008, foi na maior parte do tempo um anticlímax. Só a confirmação de vitórias anunciadas. A única grande zebra foi a vitória do filme japonês Departures, de Yojiro Takida, derrotando o favorito Valsa com Bashir, de Ari Folman, na categoria de melhor produção em língua estrangeira. Quem Quer Ser Um Milionário?, de Danny Boyle, ganhou de lavada, como se esperava, e os atores foram todos aqueles que a mídia já vinha anunciando - Penélope Cruz, Heath Ledger, Kate Winslet. A vitória de Sean Penn causou certo frissom, mas entre a segunda chance de Mickey Rourke e o gosto pela transformação do ex de Madonna você já podia antecipar que o astro de Milk levaria. Nada além das vitórias que todo mundo esperava - menos os derrotados, claro. Que chato! Mas o Oscar de 2009 não teve nada de chato, pelo contrário. A cerimônia ganhou em dinâmica com Jackman e o hábil encadeamento, pelo roteiro, das diferentes categorias, que iam sendo chamadas seguindo o hipotético processo de realização de um filme. A melhor inovação da noite ficou por conta da apresentação dos prêmios de interpretação. Tradicionalmente, era o vencedor do ano anterior quem vinha apresentar os indicados do ano em curso, no sexo oposto. A escrita foi quebrada quando, em vez de Javier Bardem, vencedor do Oscar de coadjuvante, no ano passado, por Onde os Fracos não Têm Vez, quem apareceu para celebrar a melhor atriz - Penélope Cruz, por Vicky Christina Barcelona - foi um colegiado de vitoriosas, cuja integrante mais antiga era Eva Marie Saint, premiada em 1954 por Sindicato de Ladrões, de Elia Kazan. Outros colegiados vieram apresentar o melhor coadjuvante - Heath Ledger, o Coringa - e os melhores protagonistas. A melhor atriz - Kate Winslet, por O Leitor - foi apresentada por Marion Cotillard, que ganhou no ano passado, por Piaf, e o colegiado era integrado por Nicole Kidman, Shirley MacLaine, Halle Berry e Sophia Loren. Shirley fez o elogio de Anne Hathaway, indicada por O Casamento de Rachel, e a incentivou a seguir cantando, pois ela tem uma ótima voz - como provou na abertura, ao cantar em dupla com Hugh Jackman. Sophia Loren saudou Meryl Streep, um diálogo de ícones no Kodak Theatre. Robert De Niro fez o elogio de seu amigo Sean Penn e o colegiado incluía Ben Kingsley, Anthony Hopkins, Adrien Brody e Michael Douglas. Mais até do que o triunfo da produção independente, que vem se repetindo há anos, a vitória de Quem Quer Ser Um Milionário? celebrou outra coisa - a globalização. Não por acaso, Steven Spielberg anunciou o prêmio de melhor filme para o longa de Danny Boyle. Pode ter sido mera coincidência, mas Spielberg está fazendo negócios com investidores indianos e o Milionário culmina como um musical à Bollywood. Sem surpresas, ou com poucas surpresas, mas o Oscar para os melhores de 2008 já fez história.

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