Turbinado pra cachorro

O ano começa com uma magnífica animação nas telas, Bolt - Supercão, filme que nos transmite uma forte lição de superação, em linguagem moderna e divertida

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Por um dia apenas, ou uma semana, dois novos filmes que estreiam hoje deixam de se integrar à lista dos melhores de 2008 para inaugurar a dos melhores filmes de 2009. Um é uma animação, mas desde que Ratatouille, de Brad Bird, foi o melhor filme de 2007, só mesmo críticos e historiadores que perderam o bonde da História ainda duvidam que a chamada ?oitava arte? seja um gênero ou categoria à parte, infantil, e não uma forma de questionamento adulto do cinema e do mundo. O ano teve animações como Wall-E, Kung Fu Panda e Madagascar 2, mas nenhuma se compara a Bolt - Supercão, de Byron Howard e Chris Williams. Você, cinéfilo-cinófilo, que chorou com o um pouco piegas Marley e Eu, pode ir-se preparando para a euforia que Bolt poderá lhe produzir. Além das cópias dubladas para crianças, o filme estreia com legendas e em 3-D. O outro filme importante deste 1º de janeiro, início de um longo ano que se antecipa de crise, de desafio mas também de esperança - por Barack Obama, mas não só por ele, claro -, é o francês A Bela Junie (leia na contracapa). É o bom do cinema - a sua diversidade, essa janela que abre para mundos, culturas, estéticas. O brasileiro Renato dos Anjos é um dos pais do supercão. Animador da Disney, com um currículo dos mais respeitáveis, ele pertence a esta geração de animadores que deixou o Brasil para ?fazer? a América. Mesmo que você eventualmente conteste o velho Walt e as lendas em torno dele, o nome ?Disney? é mágico como sinônimo de animação. Carlos Saldanha passou por lá, mas construiu sua fama - e hoje é diretor - na BlueSky, estúdio onde codirigiu o primeiro A Era do Gelo e ganhou crédito sozinho de direção nos outros dois. O 3 é uma das promessas da temporada de 2009. Renato dos Anjos leva o crédito de supervisor de animação de Bolt - do cão, especificamente. Um dos seus prazeres foi trabalhar diretamente com John Travolta, que faz a voz do supercão no original. "Muita coisa da energia e do entusiasmo de Bolt vem de Travolta." Renato dos Anjos conversa com o repórter do Estado pelo telefone. Ele conta como em outubro, novembro de 2007, houve uma pequena crise na produção de Bolt. O cão parecia muito duro. Não produzia a empatia necessária para que os próprios animadores - e, consequentemente, o público - embarcassem em suas aventuras. Renato interveio para... Que palavra utilizar? Humanizar o cão? Embelezá-lo? Não - para torná-lo mais simpático. Basicamente, foi isso. Bolt conta a história de um cão que estrela uma série de TV e vive num mundo de fantasia. Ele próprio acredita ser um super-herói, turbinado pelo pai da heroína, uma garotinha, para protegê-la das investidas do vilão cruel. O cão pensa que tudo pode. Na verdade, tudo o que consegue é graças à astúcia, à inteligência e à solidariedade de um inesperado par de aliados. Um acredita nele - é tiete declarado. A outra é cética (leia abaixo). Renato dos Anjos surpreende-se com a curiosidade do repórter, que indaga dele se conhece dois filmes que parecem estar na origem de Bolt. Em 1963, o diretor Richard Quine, um dos príncipes da comédia de Hollywood, fez Quando Paris Alucina, com William Holden no papel de um roteirista que imagina situações para um filme e ganha a ajuda da secretária Audrey Hepburn para testar a plausibilidade das cenas que está criando. Exatamente dez anos mais tarde, Jean-Paul Belmondo vestiu a pele do ?Magnífico?, no filme de mesmo nome de Philippe De Broca, fazendo este escritor que se projeta nas aventuras que imagina - antecipando a dupla Michael Douglas/Kathleen Turner de Tudo Por Uma Esmeralda e A Joia do Nilo. Renato conhece os dois filmes da dupla Douglas/Kathleen, mas anota os outros dois para procurar. Sua fonte de inspiração, ele revela, estava dentro da própria Disney - A Dama e o Vagabundo, sobre aquele cão das ruas que tentava impressionar (e seduzir) uma cachorrinha de madame. Bolt agora quer proteger a menina. "É um filme sobre aprendizado, sobre a nossa capacidade de nos reinventarmos e superar-nos", diz o diretor. A tecnologia de ponta - a computação gráfica - virou uma grande aliada dos animadores, mas ele confessa que, como em qualquer live action, entregou os efeitos, que ocupam boa parte de Bolt, aos especialistas. A competição com outros gigantes da animação atual, a Pixar e a DreamWorks, é estimulante. ?Desafia a gente a ousar mais." Bolt tem potencial para seduzir adultos e crianças. "Que bom! As grandes animações do cinema são as que conseguem fazer esse cross-over, atraindo públicos de diferentes idades e níveis sociais e culturais." Um ótimo 2009 para você com Bolt. Serviço Bolt - Supercão (Bolt, EUA/ 2008, 96 min.) - Animação. Dir. Byron Howard e Chris Williams. Livre. Cotação: Ótimo

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