Três sofisticadas damas do jazz na intimidade

Jane Monheit, Madeleine Peyroux e Diana Krall ampliam os horizontes nos novos álbuns, sem perder as características básicas, como o requinte e a delicadeza

PUBLICIDADE

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Diana Krall, Jane Monheit e Madeleine Peyroux são de estilos diferentes, mas têm algo em comum, além de serem conhecidas por reinterpretar standards de jazz. As três também conquistaram parcela respeitável do público brasileiro e têm seus novos - e intimistas - CDs lançados aqui pela mesma gravadora Universal. As duas primeiras vão mais fundo nas relações com o Brasil e incluíram em seus novos álbuns, como fizeram anteriormente, canções de autores nacionais como Tom Jobim, Marcos Valle e Ivan Lins. Ouça faixas de Diana Krall, Jane Monheit e Madeleine Peyroux Já faz uns 50 anos que o namoro da bossa nova com o jazz sempre dá certo. Não é surpresa nenhuma que essas sofisticadas damas do jazz mantenham esse affair. Quiet Nights, versão em inglês de Corcovado, é uma das três de Tom Jobim que Diana Krall escolheu. As outras são Este Seu Olhar e a convertida The Boy from Ipanema. Uma foto dessa praia, com o Leblon e o Morro Dois Irmãos ao fundo, ilustra o encarte. Ela ainda canta Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle (So Nice, ou Samba de Verão) e tem o bamba Paulinho da Costa na percussão. Em Quiet Nights, Diana esbanja a finesse de sempre, arranjos sóbrios, interpretação intimista, sempre muito agradável, repertório de standards - como Where or When (Lorenz Hart/Richard Rodgers) e Every Time We Say Goodbye (Cole Porter). Há também versões refinadas para temas pop como Walk on By (Burt Bacharach/Hal David) e How Can You Mend a Broken Heart, balada dos Bee Gees. No entanto, há os arranjos lindíssimos de Claus Ogerman (que, não por acaso, trabalhou com Jobim) e Diana, acariciando o piano em todas as faixas, solta a voz mais sensual do que nunca, assumidamente inspirada na divina Julie London. Em The Lovers, the Dreamers and Me, Jane Monheit demonstra intenções similares. É tudo muito cool na interpretação e nos arranjos das canções de contemporâneos como Corinne Bailey Rae (Like a Star) e Fiona Apple (Slow Like Honey), e de clássicos como Cole Porter (Get Out of Town), Leonard Bernstein (Lucky to Be Me) e Paul Simon (I Do it for Your Love). Jane - que se apresenta no Bourbon Street terça e quarta - mergulha nesse universo de "amantes e sonhadores" evitando repertório óbvio. Ela que já gravou Ivan Lins desta vez optou por uma versão de Acaso (No Tomorrow), com resultado irretocável. Romero Lubambo, guitarrista em todas as faixas, é quem fez o arranjo desta e de A Primeira Vez (Bide/Marçal), em que Jane exercita o português, com sotaque, naturalmente, mas sem se atrapalhar. Habituada a cantar standards, Madeleine Peyroux muda de rumos no belo Bare Bones, mas sem perder as características básicas - como a delicadeza. Larry Klein continua na produção musical, mas desta vez a cantora de voz dolente mostra sua faceta autoral e assina as 11 faixas do CD, com parceiros. Forçando um pouco a barra para buscar um approach com o Brasil, nota-se uma leve latinidade na faixa-título. Nas demais, Madeleine flerta com outras sonoridades, pendendo para o folk, ao violão, até quando transita pelo jazz/blues de To Love You All Over Again e Instead. Apaixonante. Enfim, as três divas ampliam os horizontes sem trair seus princípios .

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.