Toussaint e a constelação jazzística

Pianista escala time de estrelas, de Brad Mehldau a Joshua Redman, para reinterpretar Jelly Roll Morton, Armstrong e outros

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Por Jotabê Medeiros
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Um dos mais famosos e paparicados pianistas do Sul dos Estados Unidos, Allen Toussaint, aos 71 anos, conseguiu a proeza de ser herói em dois mundos: foi entronizado no Hall da Fama do Rock and Roll e recebeu um Grammy especial por uma vida dedicada aos gêneros musicais do Sul americano, blues e jazz principalmente. Mas ele está no auge, em plena forma, e não é desses aposentados da música cheios de comendas. Sua inquietação o levou agora a gravar um dos mais bem recebidos lançamentos de jazz e blues da temporada, o álbum The Bright Mississippi (Warner Music). É seu primeiro disco solo em 10 anos. Sua ambição não é pequena: Toussaint gravou clássicos de jazz e blues compostos por conterrâneos famosos, como Louis Armstrong, Sidney Bechet, Jelly Roll Morton, Billy Strayhorn e Joe "King" Oliver, além de simpatizantes dos sons de New Orleans, como Duke Ellington, Thelonious Monk e Django Reinhardt. Mas o time que ele traz consigo também não é modesto. Está no álbum simplesmente a nata do jazz contemporâneo: o trompetista Nicholas Payton, o saxofonista Joshua Redman, o pianista Brad Mehldau, o guitarrista Marc Ribot (parceiro de Tom Waits e Elvis Costello), o baixista David Piltch (sideman de k.d. lang), o clarinetista Don Byron e o baterista Jay Bellerose (que toca com Robert Plant e Alison Krauss). A superbanda de Toussaint só se reuniu uma vez para tocar o resultado do álbum, e foi no mítico Village Vanguard, em Nova York. É duro fazer bater a agenda de caras como esses. E o disco foi lançado um ano depois de gravado, em abril deste ano. É exatamente em clima desse regojizo de jam session que começa o álbum, com Egyptian Fantasy, de Sidney Bechet. Depois, vem dose dupla de Louis Armstrong, com Dear Old Southland, do próprio, e o blues St. James Infirmary, que o velho Satchmo usou como mola propulsora. Ainda virá mais adiante West End Blues, de Joe "King" Oliver, que Armstrong também chancelou com sua voz. Depois, o mergulho na chamada geração de ouro da música americana prossegue com Singin? the Blues e Winin? Boy Blues, esta última gravada por Jelly Roll Morton. Para assentar a cevada, Toussaint escava um clássico popular, a canção gospel Just a Closer Walk with Thee, gravada na história por artistas tão diferentes quanto Red Foley, Elvis Presley, Johnny Cash, Bob Dylan e The Blind Boys of Alabama. The Bright Mississippi, o Mississippi brilhante que dá nome ao álbum, vem de uma composição de Thelonious Monk. Toussaint cresceu entre músicos de R&B, acostumou-se a brincar com o funk e o rock, mas também sabe dialogar com a novíssima tradição de Herbie Hancock. Na penúltima faixa, Long, Long Journey, de Leonard Feather, Toussaint também dá uma palhinha como cantor.

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