Toda a classe do ultrafino Joe Lovano

O mais festejado sax tenor da atualidade volta ao Brasil com um noneto de feras

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Por Jotabê Medeiros
Atualização:

O que eu faço não é free jazz, é jazz free. Essa espécie de ''''statement'''' do saxofonista Joe Lovano o coloca num lugar meio singular no mundo do saxofone tenor da atualidade: dizem que ele é ''''retrobop'''', que é pouco afeito à vanguarda, e que lustra com flanela de nuvens a música já embotada do passado. Depois da passagem explosiva de Joshua Redman por aqui, na semana passada, é a hora de conferir o segundo sax tenor vivo de maior reputação da atualidade (o primeiro, claro, é Sonny Rollins). Joe Lovano, que tocou pela última vez no País em 2003, no Bourbon Street, chega no mês que vem ao Brasil para o TIM Festival 2007, e vai se apresentar com o seu Noneto. Ele acaba de lançar Kids, seu terceiro álbum com uma das lendas do piano americano, Hank Jones, de 89 anos, que disse o seguinte a seu respeito: ''''Acompanhar Joe é algo parecido como acompanhar um cantor. Você não o lidera, você o segue.'''' Curioso: Hank Jones também é o parceiro mais recente da cantora italiana Roberta Gambarini, uma das estrelas femininas do jazz no TIM Festival - teria sido interessante se festival tivesse trazido o pianista para uma canja com seus pupilos. Numa manhã tranqüila, ''''mas um pouco fria'''', em Nova York, onde vive desde 1976 (ele nasceu Joseph Salvatore Lovano em Cleveland, em 29 de dezembro de 1952), Joe Lovano explicou por telefone, em entrevista ao Estado, porque considera que faz ''''jazz free'''', em oposição ao free jazz de Ornette Coleman e outros revolucionários. ''''A conotação daquele free jazz era um tipo de som com muito volume e tocado de um jeito selvagem. Eu gosto de esculpir harmonias, de tocar de um jeito fluido. O que eu quis dizer é isto: toco jazz de um jeito livre, mas à minha maneira'''', afirmou o músico. Lovano diz que tem suas inspirações na maneira de liderar uma big band como a que está trazendo ao Brasil: Gil Evans, Charles Mingus e Tadd Dameron. ''''De Gil Evans, eu apreciava o jeito de buscar o melhor caminho harmônico, de achar cada voz, cada acorde entre os músicos. Ele mostra essas lições especialmente nas colaborações com Miles Davis. Trata-se de alimentar um ao outro.'''' O saxofonista derreteu-se todo ao falar sobre suas parcerias com o veterano Hank Jones. ''''Tenho muito orgulho dessa amizade, aprendi muito com ele. É um músico de todas as épocas, cheio de frescor. Ele é que me faz sentir como se fosse um cantor, por tornar tão espontâneo o que fazemos juntos. Hank Jones está nas fundações do que sou hoje, e isso me envaidece'''', afirmou. ''''Os músicos que me influenciaram viveram a música e disseram sempre a verdade em sua arte'''', afirmou. Os outros discos que Lovano gravou pela Blue Note com Jones são: I''''m All for You Ballad Songbook, em 2004, e Joyous Encounter, em 2005. Kids foi gravado ao vivo no Dizzy''''s Club do Lincoln Center de Nova York. Lovano comentou a morte, na semana passada, do tecladista Joe Zawinul, ex-integrante do Weather Report. ''''Nós perdemos alguns dos grandes do jazz ultimamente: Max Roach, Andrew Hill e agora Zawinul. Ele é de uma geração de pioneiros que abriu as portas para muita música nova. Não era só um solista, mas também um grande orquestrador. Não cheguei a tocar com ele, mas apreciei muito sua música.'''' E festejou o fato de estar vindo ao mesmo festival que traz o grande pianista Cecil Taylor para tocar. ''''Vivendo eu Nova York, eu já o vi tocando muitas vezes. É uma alma inspirada, cheio de paixão e idéias, um verdadeiro inspirador'''', disse. Ultramelodioso, o estilo de Joe Lovano é há muito tempo uma rara unanimidade entre crítica e público no seu país, os Estados Unidos. Ultimamente, é até difícil conseguir tickets para vê-lo em sua terra. Para a revista Downbeat, ele toca com um controle técnico que não se ouvia desde o grande John Coltrane. ''''É justo dizer que ele é um dos maiores músicos da história do jazz'''', concorda Ben Ratliff, do New York Times. ''''Ele justifica inteiramente a crescente opinião de si como um importante talento do jazz mundial'''', afirmou Don Heckman, do Los Angeles Times. ''''Um salvador que foi lentamente se materializando nos anos 90 - o impressionante saxofonista e compositor Joe Lovano'''', escreveu Whitney Balliett na New Yorker. Filho de Tony Big T, um saxofonista que tocava à noite e de dia era barbeiro em Cleveland, Lovano, o músico começou muito cedo - dizem que já tocava aos 5 anos. Antes mesmo de tirar sua carta de motorista, aos 16 anos, já tinha carteira do Sindicato dos Músicos. É casado com a cantora Judi. Lovano vem ao Brasil com a seguinte banda: Steve Williams (bateria), James Wideman (piano), Ralph Lalama (sax tenor), Barry Ries (trompete), Larry Farrell (trombone), Dennis Irwin (baixo), Garry Smulyan (sax barítono), Scott Robinson (sax barítono) e Steve Slagle (sax alto).

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