''Tirou os sapatões e disse: ''Manga, me faz massagem''''

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Por Patricia Villalba
Atualização:

Como o Vincent Vega (John Travolta) de Pulp Fiction, o diretor Carlos Manga sabe que o quão íntimo e especial pode ser massagear os pés de uma mulher. E se esses pés forem uns de tamanho 34, acostumados a plataformas vertigiosas, e de uma moça como Carmen Miranda, é assunto para mais de 50 anos. Manga tinha 27 anos quando conheceu Carmen, um encontro promovido pela atriz Renata Fronzi (1925-2008). "Era um domingo. Passamos a noite toda conversando, e emendamos na segunda-feira! Bebemos, rimos, ela dançando e cantando", lembra o diretor. "Certa hora, cansou. Tirou aqueles sapatões e me pediu: ?me faz uma massagem, pelo amor de Deus!?" Era 1955. Carmen morreria meses depois, o que carrega de mais emoção o que vem a seguir: "Ela me falou que admirava a minha atuação como diretor. E me disse: ?Você é um típico diretor brasileiro. Vou te pedir uma coisa, e você não poderá negar: faça um filme contando a história da minha vida?, relata Manga. "Confesso que fiquei extremamente emocionado, como fico agora ao contar." Há 50 anos, portanto, Manga tenta em vão fazer um filme sobre a história de Carmen Miranda. "Prometi por tudo que faria e falhei. Tentei várias vezes, procurei a família dela, e nada. Uma vez, soube que os direitos estariam com o Aloysio (de Oliveira, ex-namorado da cantora), o que muito me contrariou. Mesmo assim fui procurá-lo. Ele riu na minha cara, e disse que só Hollywood poderia contar a vida de Carmem Miranda!", conta o diretor, inflamado. Dois anos atrás, outra tentativa, desta vez como uma minissérie, na Globo. O autor Silvio de Abreu chegou a escrever parte do roteiro, que esbarrou novamente em disputas judiciais com herdeiros. No fim dessa emocionada conversa com o Estado, Manga confessa que jogou a toalha. "Infelizmente, com 81 anos, as minhas chances de conseguir fazer esse projeto são poucas."

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