Thiago Soares, uma estrela ou a exceção que confirma a regra

A chave para entender o sucesso do bailarino brasileiro está no modo como ele se movimenta

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Por Fernanda Perniciotti
Atualização:

São poucos os bailarinos brasileiros que atingem o patamar de serem reconhecidos como estrelas do balé mundial, pela sua atuação nas mais tradicionais e respeitadas Cias do mundo, como é o caso de Thiago Soares, ídolo da The Royal Ballet, de Londres. Engana-se quem, no entanto, acredita que o sucesso do bailarino ficou restrito à terra da rainha Elizabeth II, porque também conquistou críticos e públicos na França e na Rússia, outros grandes berços da dança clássica. 

O bailarino Thiago Soares, que foi a estrela máxima da companhia londrina. Foto: Acervo Thiago Soares

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Os motivos pelos quais o Brasil não se destaca nesse campo são inúmeros, mas o principal deles vem de uma questão histórica. Tecido nas grandes cortes europeias, o balé fazia parte da etiqueta indispensável para se frequentar os palácios da monarquia, na Europa central. A formação de um bailarino clássico é exigente e, geralmente, ocorre em escolas vinculadas a esta tradição. E, no nosso caso, ela aqui se institucionalizou pelo viés colonial, com a vinda da corte portuguesa para o Rio, em 1808. Mas Portugal não figurava entre os grandes representantes dessa dança.

O que, então, faz de Thiago Soares uma das nossas exceções? Por que se tornou uma estrela no seio da excelência clássica? A chave para entender o sucesso do bailarino brasileiro está no modo como ele se movimenta, e que está atrelado ao modo como o ensino da dança se estabeleceu aqui. Diferentes públicos e a crítica especializada, em toda a Europa, dizem que Thiago coloca “força/carga performática” nos papéis que dança. O que é força dramática no corpo que dança?

Ao vê-lo se movimentar, é possível reconhecer que há alguma ligação com um contexto distinto do balé, o das danças urbanas, presente na sua formação, aqui no Brasil. O contrapeso, muito recorrente nessas danças, como forma de balancear a movimentação, por exemplo, produz “desencaixes” que um bailarino russo, inglês ou francês, formado na tradição dessas escolas, não aprende. Isso também se liga ao jeito como o brasileiro vai de um movimento para o seguinte, as transições entre passos, e como termina cada um deles.

Thiago também traz à cena outro tipo de corpo, com uma musculatura mais definida e menos longilíneo do que o padrão clássico europeu. E essas particularidades, com relação ao uso do peso e das articulações, também estão nos seus saltos e quando contracena com as primeiras bailarinas, nos Pas de Deux (o duo no balé). Características que vão configurando um certo jeito “forte” de estar em cena.

O que torna Thiago Soares especial no mundo do balé, essas características que produzem fascínio em torno dele, é a exceção que confirma a regra - ou seja, ele destoa do padrão no qual se insere e é condecorado justamente por isso, por ser o ponto fora da curva. Ele se destaca por trazer ao contexto do balé aquilo que não está lá. 

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