''''Tenho todos os CDs do Sinatra e do Roberto Carlos''''

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Por Redação
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Com quase 60 anos de carreira, Paulo Moura é um dos maiores instrumentistas do País. Mestre em clarineta e saxofone e sempre ao lado dos melhores músicos, do erudito ao jazz, passando pelos ritmos brasileiros, Moura já tocou com Ary Barroso, Moacir Santos, Elis Regina, Arthur Moreira Lima, Radamés Gnattali, Milton Nascimento, Sérgio Mendes, Marisa Monte. Entre os inúmeros prêmios nacionais e internacionais - e uma discografia de mais de 35 CDs solos -, recebeu o I Grammy Latino de 2000 para Música Instrumental de Raiz e, em 2005, o Prêmio Tim de Melhor Solista Popular, pelo CD El Negro del Blanco, com Yamandú Costa. Em 2006, lançou Dois Panos para Manga, em duo com João Donato, e Gafieira Jazz, com o jazzista nova-iorquino Cliff Korman. Em maio de 2007, lançou Samba de Latada, revigorando as raízes negras do interior de Pernambuco, em parceria com o forrozeiro Josildo Sá. Na terça-feira, Paulo Moura se apresenta, no Sala do Professor Buchanan''''s, aula-show que reúne mestres da música brasileira e é transmitido pela Rádio Eldorado. Qual disco ou música mudou sua maneira de ver o mundo? A música Laura , interpretada pelo saxofonista Charlie Parker. Não tanto pela música, mas pela maneira que ele a tocou. Eu devia ter uns 16 anos e não compreendia como ele podia fazer aquilo. Foi aí que comecei a tocar sax. Que artista mais o influenciou? Um saxofonista brasileiro chamado Pascoal de Barros, que tocava na Rádio Tupi. Não era tão famoso, mas deixou uns choros bonitos. Um deles chama-se Teclas Pretas. Outro que me influenciou foi o mastro Eleazar de Carvalho, porque ele liderava a Orquestra Sinfônica Brasileira com categoria impressionante, foi um dos maiores regentes. Que obra (CD, composição) você detestou à primeira vista e passou a venerar depois? Aconteceu nos últimos tempos. Por exemplo, uma música do compositor Arnold Schoenberg, O Sobrevivente de Varsóvia. Porque ela tem uma linguagem muito especial e de difícil compreensão. Então, quando a ouvia as primeiras vezes, não entendia. Mas insisti. E só comecei a entendê-la melhor e a gostar mais quando ouvi a execução de Eleazar de Carvalho. Qual disco ruim você adora ouvir, mas tem vergonha de dizer que gosta? Uma música do Roberto Carlos, Sentado à Beira do Caminho. Gosto dela até hoje. Qual disco você comprou levado pela opinião alheia e odiou? Uma vez eu comprei o disco chamado Cidade de Vidro e não apreciei muito. Mas fui escutando aos poucos e agora gosto bastante do trabalho. Que música de outro você gostaria de ter composto? Uma música do Milton Nascimento, Das Tardes Mais Sós. Aliás, eu gravei a música num dos meus CDs, Paulo Moura Hepteto. Qual disco de sucesso deixa você com inveja por não tê-lo feito? Um disco de música brasileira gravado pelo Yo-Yo Ma, Obrigado Brazil, em que convidou alguns músicos, inclusive o Paquito d''''Rivera. Eu gostaria muito de ter participado. Qual disco você acreditou que seria ótimo e frustrou suas expectativas? Um disco meu mesmo: Paulo Moura visita Gershwin & Jobim, um CD gravado ao vivo num show muito bom. Porém, na gravação, não saiu tão bom quanto no show. Qual disco fez você passar uma noite em claro analisando o que tinha ouvido? Um CD do compositor americano Oliver Nelson, Blues & The Abstract Truth. Qual você nunca deixa de ouvir? Por quê? Sempre ouço o disco do baterista Edson Machado, chamado Edson Machado É Samba Novo. A percussão é ótima, o ritmo é muito brasileiro e teve um impacto muito grande na época. Além de eu ter participado ao lado de grandes nomes como Moacir Santos, Raul de Souza, etc. Você é mais Caetano Veloso ou Chico Buarque? Maria Bethânia ou Gal Costa? Por quê? É muito difícil, pois tenho admiração por todos. e qual compositor(a), grupo ou cantor(a) você tem todos os discos? Tenho a coleção completa de discos do Frank Sinatra. E acho que tenho todos do Roberto Carlos também. Qual a melhor e a pior regravação de um clássico da MPB? A melhor é Milagre dos Peixes com Milton Nascimento; a pior, realmente não sei. Aponte um disco que considera um clássico instantâneo. Um disco popular chamado Samambaia, de César Camargo Mariano e de Hélio Delmiro. E outro, lançado nos últimos dez anos, que está entre os melhores de todos os tempos. O álbum Ouro Negro, de Moacir Santos. Qual foi o show que mais marcou sua vida? Foi o de Antônio Nóbrega, Madeira Que Cupim não Rói, no Canecão. Por causa do visual, de suas danças regionais e da música pernambucana. Qual artista, na sua opinião, começou mal a carreira discográfica e depois deslanchou? Do que eu sei foi o Jorge Vercilo. Seu primeiro disco não teve muita repercussão mas, aos poucos, ele foi aparecendo. Qual cantor(a) é melhor do que os discos que grava? Jorge Vercilo. Ao vivo é melhor. Qual o erro mais constante - e que jamais cometeu ou cometeria - em discos de artistas que você gosta? Eu acho desnecessário quando alguns instrumentistas convidam artistas famosos achando que isso leva o disco para frente. Isso comigo não acontece. Se não valer a música que está sendo gravada, a presença de alguém não muda nada no resultado final. Que músico você admira por combinar atitude e qualidade artística? Chico Buarque. Qual bom disco mal gravado que mereceria ser refeito hoje pelo artista original? É um recado que eu dou pra mim mesmo na verdade. Eu pretendo gravar outro disco com canções que Radamés Gnattali compôs pra mim. Na época em que gravei, não entendia tão bem a música dele quanto hoje.

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