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SP-Arte/Foto chega à 10ª edição com convidados de museus internacionais

Feira brasileira de fotografia, que começa nesta quarta-feira, 24, tem como destaque obras do húngaro Moholy-Nagy

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Se é verdade que é possível medir a influência do anfitrião pela lista de seus convidados, Fernanda Feitosa, idealizadora da SP-Arte/Foto, que chega agora à 10.ª edição, está bem na fita dos museus internacionais. Na quarta-feira, 24, quando for aberta a principal feira de fotografia brasileira, no terceiro piso do Shopping JK Iguatemi, alguns dos principais curadores de museus internacionais estarão de olho no acervo de 31 galerias e de uma associação que as representa, a Abact, para enriquecer suas coleções.

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Para citar apenas três desses convidados, estarão presentes na feira o curador de fotografia do Metropolitan Museum, Jeff Rosenheim, o diretor do International Center of Photography (ICP), Christopher Phillips, e Brett Rogers, diretora da Photographer’s Gallery, primeira galeria inglesa dedicada exclusivamente à fotografia. Eles vão participar de debates organizados pela feira nos dias 25 e 26, no Lounge One do Shopping JK, com mediação da jornalista e editora Simonetta Persichetti, tendo como debatedores o colecionador Joaquim Paiva e o diretor responsável da Brasileiros Editora, Hélio Campos Mello.

A lista de convidados conta ainda com Joerg Bader, diretor do Centre de La Photographie de Genebra, e Carolina Lewandowska, curadora do Centre Pompidou de Paris, ansiosamente aguardada pelos galeristas. Depois da aquisição de fotos dos pioneiros da moderna fotografia brasileira (German Lorca, entre eles) pelo Museu de Arte Moderna de Nova York e também pela Tate de Londres, todos esperam que o Pompidou e outras instituições europeias e norte-americanas venham comprar os modernos e os contemporâneos.

Como o mercado é uma via de mão dupla, os colecionadores brasileiros também estarão em peso na SP-Arte/Foto para ver as raridades que as galerias expõem, entre elas fotografias do vanguardista Moholy-Nagy (leia abaixo), que fundou e dirigiu o departamento de fotografia da Bauhaus, cópias vintage de Cartier-Bresson e Man Ray, além, é claro, dos modernistas brasileiros, 28 deles reunidos na mostra Paralelas e Diagonais, entre os quais os fotoclubistas do movimento chamado Escola Paulista, nascido no Foto Cine Clube Bandeirante nos anos 1950: Eduardo Salvatore, George Radó, Gertrudes Altschul, José Yalenti, Marcel Giró, Mario Fiori e Paulo Pires. Os curadores Iatã Cannabrava e Isabel Amado escolheram 30 imagens que integram acervos de coleções como as do MoMA e da Tate Modern.

Fernanda Feitosa, diretora da feira SP-Arte/Foto Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

O mercado dos modernos cresceu e hoje uma foto vintage dos mais conhecidos chega a alcançar, segundo Fernanda Feitosa, US$ 20 mil, pouco menos que a metade do valor do livro de Man Ray exposto na feira (algo em torno de US$ 50 mil). Para os colecionadores neófitos, que podem se assustar com os preços, a diretora alerta que a faixa dos brasileiros é bem elástica, variando de R$ 4 mil a R$ 40 mil – uma edição póstuma com dez fotos de Mário Cravo Neto (1947-2009), organizada por seu filho Christian Cravo, também presente na feira com uma série sobre o recente desastre ambiental de Mariana.

Ao longo de dez anos, a SP-Arte/Foto, ao trazer fotógrafos, curadores e diretores de museus internacionais, ajudou a consolidar o mercado de fotografia e difundir a obra de modernos e contemporâneos, recebendo mais de 80 mil visitantes. Fernanda Feitosa pretende manter o formato, que converge para as galerias nacionais e editoras recém-criadas para a publicação de fotolivros (só no sábado, 27, serão lançados nada menos do que 12). A feira pode ser o embrião para o nascimento de um evento equivalente ao Mês da Fotografia, que tanto agitou a cidade no passado. “Cerca de 70% de nossos colecionadores têm entre 20 e 50 anos, uma faixa muito jovem que acompanha a valorização da fotografia no mercado”, revela a diretora.

A vanguarda de Moholy-Nagy numa edição rara e para poucos

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O foco da Galeria Fass sempre foi a fotografia moderna, desde sua abertura, em 2008, um ano depois da primeira edição da SP-Arte/Foto. Do peruano Martín Chambi (1891-1973) aos pioneiros da foto experimental no Brasil, a galeria teve, segundo seu diretor, Pablo di Giulio, “uma preocupação didática, de formar colecionadores”. Seguindo esse princípio, ele mostra nesta edição seis fotografias e dez fotogramas do vanguardista húngaro László Moholy-Nagy (1895-1946), que, marcado pelo construtivismo russo, dirigiu o departamento de fotografia da Bauhaus, onde trabalhou com fotos vanguardistas.

Com a ascensão de Hitler ao poder, em 1933, Moholy-Nagy, judeu e estrangeiro, teve de sair da Alemanha, passando um tempo na Holanda antes de viajar para Londres, em 1935, e, posteriormente, para os EUA, em 1937. As seis fotografias que estão na mostra da Fass foram produzidas no período alemão, mais precisamente, em 1930, quando criou um equipamento de luz que era, ao mesmo tempo, um gerador de movimento, o Licht-Raum Modulator (Modulador de Luz e Espaço).

“Esse objeto é mostrado no único filme abstrato que ele fez, Ein Lichtspiel: Schwarz Weiss Grau (Um Jogo de Luz: Preto Banco Cinza), que mostra o modulador em ação”, conta Di Giulio, destacando ainda os fotogramas trabalhados por Moholy-Nagy de 1922 em diante. “O que estamos exibindo são reproduções feitas a partir dos fotogramas originais, parte de uma edição produzida em 1973 e assinada pela filha do fotógrafo, Hattula Moholy-Nagy”, hoje diretora da fundação que leva seu nome. Di Giulio comprou os raros exemplares de um livreiro de Buenos Aires.

SP-ARTE/FOTO Shopping JK Iguatemi. Av. Juscelino Kubitschek, 2.041. 5ª e 6ª, 15h/21h; sáb, 14h/21h; dom., 14h/20h. Abertura 24/8 (convidados)

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