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Sons e cores garimpados no interior do País

Após o premiado Zunido da Mata, de 2003, Renata Rosa lança Manto dos Sonhos, que reflete suas incursões no Nordeste

Por Livia Deodato
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Aos 17 anos, em plenas férias, Renata Rosa chegou a trocar semanas ensolaradas à beira de qualquer belíssima praia do Nordeste para conviver e desvendar alguns dos segredos dos índios da tribo Kariri-Xocó, no município Porto Real do Colégio, interior de Alagoas. Ficou maravilhada com a polifonia vocal que encontrou ali ("todos na tribo são cantores"), um dos aspectos da cultura infinitamente vibrante por ser sobrevivente. Foi só questão de tempo para expandir os limites geográficos e descobrir que muitas outras belezas brutas continuavam escondidas, mas apenas para os que possuem olhos de não ver. Ouça trecho de Maria Eleonor Suas incursões há quase 20 anos para dentro do Brasil acaba de render um novo álbum, cheio de saborosos cheiros, sons e cores, o segundo da carreira da cantora e compositora paulistana do Brás, hoje com 35 anos, radicada há pelo menos 8 em Olinda, Pernambuco. Manto dos Sonhos costura sambas de coco, rojões, cirandas e até um cavalo-marinho para apresentar uma colcha de retalhos com os mais finos tecidos fabricados naturalmente aqui. E deve grande parte desse rico trabalho aos artistas que encontrou atrás de cada morro, no meio de cada estrada, em casas de pau-a-pique. "Encontrei músicos formidáveis e virtuosíssimos, cuja tamanha generosidade me ajudaram a construir muito do que faço e sou hoje", diz, convicta. O primeiro álbum que lançou nessa mesma linha, Zunido da Mata, em 2003, sagrou-se na Europa com o prêmio Choc De L?Anne, de melhor disco do ano, concedido pela revista mensal Le Monde de la Musique em dezembro de 2004. "O Zunido já tinha sido resultado de uma vida de referências. Por causa do prêmio e das boas críticas que o disco recebeu, passei os anos de 2005 e 2006 praticamente em turnês, ainda mais pela Europa", conta Renata. No ano passado, ela resolveu, então, sossegar um pouco no seu cantinho para poder refletir, estudar, compor: "Queria ter um pouco de solidão criativa." O ?retiro? serviu para maturar toda a nova colheita que fez nesse período - e que hoje será apresentada em show no Sesc Vila Mariana e sexta no Teatro do Colégio Santa Cruz. E um laboratório inesperado no meio do caminho, mais precisamente em 2006, enriqueceu ainda mais na elaboração do Manto - Renata foi convidada pelo diretor Luiz Fernando Carvalho para participar da minissérie inspirada no romance A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, dando vida à personagem Maria Safira. "Foi uma experiência sensacional. Muitas músicas que hoje estão no Manto surgiram ali, como Maria Eleonor, Marcha do Donzel e também a canção que dá nome ao novo álbum", conta. A rabeca, que Renata aprendeu a tocar com o mestre Luís Paixão há dez anos, também marca presença no novo álbum. Um álbum sensorial. Serviço Renata Rosa. Sesc Vila Mariana. Teatro (608 lug.). R. Pelotas, 141, V. Mariana, telefone 5080-3000. Hoje, 21 h. R$ 16

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