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Sinônimo de pop art, Andy Warhol ganha retrospectiva que reúne mais de 350 obras

Whitney Museum é a maior exposição dedicada a um único artista organizada pelo museu desde sua fundação em 1931

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Por Redação
Atualização:

Nas décadas de 1960 e 1970, latas de sopa, garrafas de refrigerante e retratos de celebridades reproduzidos em silkscreen fizeram de Andy Warhol (1928-1987) um dos artistas americanos mais reconhecidos do século 20. Nos últimos anos de carreira, no entanto, ele foi criticado por produzir arte considerada muito comercial e o debate sobre sua relevância se prolonga até hoje. O Whitney Museum pretende mudar essa visão em Andy Warhol – From A to B and Back Again que, com mais de 350 obras, é a maior exposição dedicada a um único artista organizada pelo museu desde sua fundação em 1931.

Nome que se tornou sinônimo de pop art, “Warhol não era apenas um titã do século 20, era também um visionário do século 21”, segundo Donna De Salvo, diretora adjunta, curadora sênior do Whitney e organizadora da retrospectiva. Para Donna, ele antecipou a forma em que personalidades e produtos se confundem atualmente e desafiou crenças fundamentais em imagens, tal como ocorre hoje com o uso disseminado de programas de computador e aplicativos que transformam a veracidade delas.

Pop arte. À esq., Marilyn Diptych (1962) Foto: FOTOS WHITNEY MUSEUM

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Primeira a abranger as quatro décadas da carreira de Warhol exibida nos Estados Unidos desde 1989, a retrospectiva tem como um de seus objetivos principais destacar a produção de Warhol nos anos 80 como o passo final de uma evolução artística originada no início da carreira dele. O título vem do livro de memórias A Filosofia de Andy Warhol – de A a B e de Volta a A, de 1975, no qual o artista reuniu suas citações sobre temas como fama, amor, beleza, classe e dinheiro. 

Assim que chegou a Nova York, em 1949, Warhol começou a trabalhar como ilustrador comercial. Técnicas e recursos empregados no desenho para anúncios, como uso de projetor, carimbos e estêncil, também eram a base de seus trabalhos pessoais. No início da década de 1960, ele passou a aplicar aqueles métodos em imagens de circulação em massa, como manchetes e fotografias publicadas por jornais e revistas ou anúncios de produtos de consumo. Superman, copiado de um gibi de abril de 1961, e 129 Die in Jet, reproduzindo a primeira página de um jornal com a fotografia do acidente de um jato da Air France em 1962, são pinturas feitas completamente a mão nas quais ele imitou o processo de impressão.

Na representação de uma garrafa de Coca-Cola definiu-se a estética que o tornaria reconhecido, fazendo a ligação definitiva entre arte e arte comercial. Warhol mostrou a amigos duas de suas pinturas da garrafinha do refrigerante, uma em estilo expressionista abstrato, onde o desenho borrado evidenciava a mão do artista, e a outra pintada com giz de cera sobre tela, baseada na projeção de uma imagem e com aparência de reprodução mecânica. Os amigos preferiram a segunda. Tem início ali a apropriação que ele fez de marcas comerciais como a das sopas Campbell, a dos molhos Heinz e a das esponjas de arear panelas Brillo, usadas em pinturas e esculturas que as tornaram símbolos da cultura popular americana. 

A mudança para a técnica de silkscreen, um processo mecânico real, foi o desenvolvimento mais importante para Warhol estabelecer sua marca como artista plástico. A serigrafia cria duplicatas exatas na aplicação comercial, mas ele descobriu como conseguir efeitos diferentes ao imprimir imagens fotográficas diretamente na tela usando repetições, variações de superfície, combinações de cores e mais ou menos compressão. Muitas das primeiras pinturas que Warhol produziu com essa técnica retratam celebridades como Marilyn Monroe, Elizabeth Taylor, Elvis Presley e Marlon Brando. Ao longo da carreira, ele fez centenas de retratos de amigos, parentes, artistas de todas as áreas, atletas, socialites e políticos, a maioria por encomenda e feita a partir de fotografias polaroid. Manteve cópias para ele mesmo porque tinha intenção de exibi-los juntos como um Retrato da Sociedade. 

Uma galeria inteira da retrospectiva lembra esse plano não realizado reunindo cerca de 80 daqueles retratos, entre os quais está o do brasileiro Pelé, feito em 1977. Há outros em quase todas as galerias e ganha destaque o monumental (4,48 x 3,47 m) Mao, de 1972, ano em que, num ato diplomático em plena Guerra Fria, o então presidente norte-americano Richard Nixon visitou a China. Warhol baseou seu retrato numa pintura de Zhang Zhenshi que ilustrava a capa do que ficou conhecido no Ocidente como O Livrinho Vermelho, com citações do líder comunista Mao Tsé-tung.

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No fim dos anos 70, começou a revisitar os principais temas de seu trabalho anterior. Em séries chamadas Reversals e Retrospective, as pinturas foram produzidas com as mesmas serigrafias que ele usou cerca de 15 ou 20 anos antes, muitas vezes com as cores invertidas ou quase monocromáticas. Em Sixty-Three White Mona Lisas, de 1979, por exemplo, a imagem do quadro de Leonardo da Vinci, que ele havia manipulado em 1963 num de seus primeiros trabalhos em silkscreen, se repete 63 vezes apenas com variação de tons de branco numa composição de dois metros de altura por dez de comprimento.

Depois do Whitney, onde fica até 31 de março de 2019, Andy Warhol – From A to B and Back Again vai ser exibida no Museum of Modern Art de San Francisco e no Art Institute de Chicago.

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