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Simplicidade que conduz a outros mundos pelas palavras

A literatura é o instrumento usado pela artista Marilá Dardot, que apresenta na mostra Ficções suas mais novas obras

Por Camila Molina
Atualização:

A palavra e a literatura são os instrumentos da pesquisa artística de Marilá Dardot, assim como poderiam ser cores, formas, tecnologia, etc., se fosse outro tipo de caminho, de um outro artista. Sendo assim, na naturalidade da coerência de sua produção, não poderia ser diferente a exposição Ficções - que ela acaba de inaugurar na Galeria Vermelho -, ser formada por obras em que letras gigantescas são esculpidas num simulacro de concreto, por reproduções de páginas de livros - do Ulisses, de Joyce - e de lombadas de publicações dentro do que seria um labirinto em uma estante, além de trabalhos em que estão máquinas de escrever. "Prefiro ser leitora a escritora", diz a artista: o campo da literatura e das palavras é, por assim dizer, o meio de abertura simples para o território da imaginação. "As estratégias das ficções são simples e as palavras são o instrumento fácil para me comunicar. Hoje, estamos num mundo em que as imaginações já nascem prontas. As crianças não constroem mais, elas cumprem ficções", diz a artista. Por isso, em sua nova mostra, ela quer levar ao visitante a possibilidade de adentrar em um outro mundo, quer "tirar do espectador o chão da verdade", fazê-lo duvidar do que é construído e intermeado de convenções. Já na fachada da galeria estão incrustados retângulos de plásticos coloridos que, à primeira vista, não se deixam revelam totalmente. Depois, logo no hall, está a obra Ulyisses, com 18 reproduções de páginas e da capa do complexo livro Ulisses (1922), de James Joyce - promotor de uma nova forma de narrativa na história da literatura -, em versão duplicada, bilíngüe (inglês/português). Nelas estão os marcadores de livro coloridos que remetem ao trabalho da fachada da galeria e, sendo assim, enfim, entendemos: a artista quer que entremos em um grande livro. Na obra Ulyisses estão as páginas em que a artista encontrou e grifou diversas menções à palavra "palavra" (word, em inglês). Pela repetição e coleção desse signo, além da presença de reproduções de páginas de livros como obra de arte, Marilá propõe uma situação de estranhamento e de intimidade cara ao universo da literatura. Vamos lendo cada uma das reproduções e então chegamos à passagem primordial da exposição: na sala principal da galeria está a instalação Porque as Palavras Estão Por Toda Parte (criada no México), em que letras agigantadas (outra escala fora do real) estão colocadas no piso. É tudo um jogo, como a passagem da personagem de Alice no País das Maravilhas para o outro lado do espelho: Marilá gosta da literatura "porque ela tem a simplicidade de levar para outros mundos com tão pouco" Serviço Marilá Dardot. Galeria Vermelho. Rua Minas Gerais, 350, Higienópolis, telefone 3138-1520. 10 h/19 h (sáb., 11 h/17 h; fecha dom. e 2.ª). Grátis. Até 27/9

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