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Série rara de Iberê Camargo é exibida

'Tudo te é Falso e Inútil' tem curadoria do pintor Lucas Arruda, que também expõe na Fundação Iberê Camargo

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Até 13 de fevereiro é possível ver na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, uma das séries mais vigorosas do pintor gaúcho que dá nome à instituição, Tudo Te é Falso e Inútil, com curadoria do pintor Lucas Arruda. A exposição reúne obras dos últimos anos de vida de Iberê Camargo (1914-1994), incluindo 14 pinturas e 35 desenhos (esboços preparatórios dessa e outras duas séries, Ciclistas e Idiotas) realizados entre os anos 1990 e 1994. O curador Lucas Arruda também expõe no mesmo prédio da fundação (até 16 de janeiro) suas paisagens da série Lugar Sem Lugar, com curadoria de Lilian Tone.

A mostra Tudo Te é Falso e Inútil é a primeira a exibir juntas as cinco pinturas de grande formato da série homônima. Nem mesmo o pintor as viu reunidas em exposição. Por considerar esses óleos invendáveis (sendo as causas o tema complexo e as dimensões) reservou quatro deles para a coleção da esposa, Maria Coussirat Camargo. Ao morrer, ela legou esse acervo à fundação que leva o nome do marido. A quinta pintura pertence à coleção do empresário Jorge Gerdau.

Tela que dá título àsérie 'Tudo Te éFalso e Inútil', pintada em 1992 por Iberê Camargo Foto: Fundação Iberê Camargo

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Portanto, não se trata de nenhuma danação. A série é, de fato, hermética a partir mesmo do título, inspirado por um poema de Fernando Pessoa (Vem, Noite Antiquíssima e Idêntica). Nele, a noite eterna, que viu nascer os deuses, esboça um sorriso triste porque tudo lhe parece falso e inútil. A noite é representada pela cor azul. Em outra série vinculada a esta, Idiotas, a paleta é similar, acentuando a melancólica ingenuidade de seres primevos, que não tomaram consciência do mundo em que vivem. Um homem com a amarga experiência existencial de Iberê Camargo tinha também consciência de seu deslocamento nesse universo.

A pintura do paulistano Lucas Arruda, embora tenha outra natureza, mantém vínculos não só com o cromatismo plúmbeo de Iberê mas com esse espírito de lugares vazios que ganham transcendência por meio da pintura. Lucas, que nasceu em 1983, é hoje um dos grandes nomes de arte brasileira no mercado internacional. Ganhou uma retrospectiva em Kassel, em 2019.l

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