Semana sônica

Da sonoridade crossover de Dr. Lonnie Smith e Rachel Z ao pioneirismo de Chuck Berry, os solfejos de Bobby McFerrin e o neosoul de Joss Stone: a música domina

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Por Jotabê Medeiros
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A capa da prestigiosa revista Down Beat de julho trará três jovens pianistas que estão no topo do olimpo jazzístico atualmente: Matthew Shipp, Jason Moran e Vijay Iyer. Os dois primeiros são conhecidos por aqui. O terceiro não é, mas vai ser em uma semana, e talvez venha a ser igualmente reverenciado. Vijay Iyer, considerado uma das melhores revelações da música atual, é um indo-americano de 37 anos, filho de pais indianos que imigraram para a região da Bay Area nos anos 70. Ele é uma das novas faces do som moderno mundial desembarcando no também novíssimo Bridgestone Music Festival, que se espelha nos mais charmosos e intimistas formatos dos festivais europeus e busca criar pontes musicais. ''Eu preciso muito tentar mostrar uma opção diferente para as pessoas. Mostrar que vale a pena sair de casa para conhecer o novo, para se surpreender'', diz o diretor artístico do festival, Toy Lima (que criou festivais como o Heineken Concerts, o Chivas Jazz Festival e foi curador da Tenda Mundo, de world music, do Rock in Rio). Não são estilos ou vozes conhecidos, mas certamente serão familiares para grande parte do Brasil multicultural. A voz ancestral da cantora argelina Souad Massi (leia entrevista abaixo) já toca em uma única estação de rádio brasileira, a Rádio Eldorado FM, parceira do festival. Vijay Iyer, Souad Massi, Dr. Lonnie Smith, Rachel Z, Daby Touré e Dobet Gnahore são de um universo sonoro novo, mas a semana apresenta um variado e bem fornido cardápio. Hoje, no Via Funchal (com ingressos esgotados), apresenta-se um fenômeno da música, a inglesinha Joss Stone. Nesta quarta-feira, no HSBC Brasil, o pai do rock''n''roll, Chuck Berry, de 81 anos, faz de novo em terras brasileiras o seu famoso ''duck walk'' (o passo do pato), seis anos após sua última apresentação em São Paulo. No Theatro Municipal, no domingo, apresenta-se o cantor Bobby McFerrin, de 58 anos, ícone das fusões entre jazz e pop dos anos 1970. Na quinta, McFerrin falou ao Estado por telefone. Desde 1992 ele não vinha ao Brasil. Sua música se sustenta numa prodigiosa capacidade de brincar com scats, com um tratamento ''tátil'' dos sons. McFerrin vem de uma série chamada Perspectives, no Carnegie Hall de Nova York, ao lado do violoncelista Yo-Yo Ma e da Orchestra of St. Luke''s, na qual ele procura forçar algumas fronteiras. Por vezes, ele parodia os cânones da ópera, alternando sua voz entre o papel de soprano e o de barítono. Rege a audiência em canções como Itsy Bitsy Spider; canta a linha de violino no Concerto em A Minor, de Bach e no Pavane Op. 50, de Fauré; duela com o cello de Yo-Yo Ma em Concerto em G Minor (RV 531), de Vivaldi. Também canta Flight of the Bumblebee, de Rimsky-Korsakov, e uma versão de O Mágico de Oz, na qual faz mímica de todas as vozes do filme, das bruxas aos animais encantados. ''Quando eu convoco a platéia para participar, estou procurando criar um atmosfera, um clima. Muitas vezes eu encontro a mim mesmo nessa procura'', disse McFerrin. ''A natureza de minha apresentação é a improvisação'', afirmou. Entretanto, ele não se declara um fã incondicional do beatbox, a brincadeira sonora que os rappers fazem com a boca em shows de hip-hop. ''Gosto de alguns, mas alguns são bem mais criativos do que outros. Mas não exploro essa técnica, porque não sei muito a respeito.'' Uma música que a platéia certamente não poderá esperar no concerto de McFerrin é a sua composição mais famosa, Don''t Worry, Be Happy. ''Não a tenho tocado durante um bom tempo agora'', disse. ''Mas é interessante: tem mais de 20 anos essa música, e a nova geração conhece. Vejo garotos de 10, 12 anos que me pedem para cantá-la. Você sabe, era o começo de minha carreira, eu estava me desenvolvendo.'' Ele só não conseguiu explicar como é que não surgem mais bons cantores de jazz homens no cenário. ''Meus favoritos também são mulheres, adoro Dianne Reeves. Entre os homens, Kurt Elling é o mais popular, mas é realmente raro. Não sei dar uma explicação razoável. Acho que os garotos preferem tornar-se instrumentistas hoje em dia.''

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