Sem medo da nova era fantástica

Evento começa hoje para convidados e abre vitrine para o grotesco e o sublime

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Porto Alegre já abriga há alguns anos o Fantaspoa, um festival de terror que era uma das raras (única?) iniciativas brasileiras do gênero, a exemplo de eventos internacionais em cidades como Sitges, na Espanha. O próximo Fantaspoa, de número 5, ocorre em julho. São Paulo ganha agora seu festival de cinema fantástico, de hoje até o dia 2, na Reserva Cultural. A sessão de hoje é para convidados. A partir de amanhã, 34 títulos, entre curtas e longas, serão exibidos em três mostras competitivas - uma internacional, outra iberoamericana e a terceira, especial, com obras nacionais e estrangeiras. Idealizadora e diretora do festival, Betina Goldman explica que o objetivo do SP Terror é criar "uma vitrine eclética, indo do cinema de arte ao totalmente trash, do sublime ao berrante". Na abertura, convidados assistirão a Halloween - O Início, terror em 3-D de Rob Zombie, que deve estrear nos cinemas na sequência. A série Halloween começou em 1978 e já está no décimo exemplar. John Carpenter foi o diretor original. Hollywood sempre produziu filmes de terror, mas o gênero sofreu mutações ao longo do tempo. Nos anos 30, os diretores James Whale e Tod Browning usaram aberrações para criar a beleza, em clássicos como Frankenstein e Monstros. Nos 40, o produtor Val Lewton apadrinhou novos diretores, como Mark Robson, Robert Wise e Jacques Tourneur, exortando-os a fazer um terror sugerido, em que nada era mostrado de verdade. Nos 50, a empresa inglesa Hammer introduziu a cor e o erotismo nas suas histórias de Dráculas e Frankensteins. Nos 70, sob o duplo efeito de Psicose, de Alfred Hitchcock, na década anterior, e O Exorcista, o primeiro da série, de William Friedkin, o terror ficou mais gráfico. Tornou-se gore, cheio de gosma e sangue, e violento. George Romero é um dos mais importantes autores de terror contemporâneo. Com seus mortos vivos, nos anos 60, ele desenvolveu uma vertente política e, desde então, vem filmando a América assolada pela violência dos outsiders, em obras que refletem momentos decisivos de tensão social. Com Wes Craven, na série Pânico, surgiu uma vertente paródica - como o ?terrir?, terror com riso, do diretor brasileiro Ivan Cardoso. Filmes de várias nacionalidades - o inglês Os Matadores de Vampiras Lésbicas, de Phil Clayden; o japonês Bigmanjapan, de Hitoshi Matsumoto; o norte-americano (independente) Strange Girls, de Rona Marks; o argentino Visitante de Inverno, de Sergio Esquenazi; e o chileno Os Descendentes, de Jorge Olguin, etc. - integram a programação. O Brasil participa da competição com Mangue Negro, longa de estreia do maquiador Rodrigo Aragão, que ambientou em Perocão, Guarapari, onde nasceu, sua história de uma mutação genética que transforma animais e pessoas de um manguezal em monstros devoradores de carne humana. O diretor de origem capixaba já se exercitara no curta-metragem com O Chupa-Cabras, seguido de Peixe Podre 1 e 2. O próprio diretor define seu terror como ?ecológico?. Quando a heroína sexy é contaminada por um zumbi, entra em cena a religiosidade popular e a preta-velha, uma inovação nacional no gênero, indica o fel de um peixe no mangue como antídoto contra a degeneração. Rodrigo Aragão define o terror como algo intrinsecamente ?divertido?. Seu terror de baixo orçamento - custou R$ 60 mil - tem ideias e cenas eficientes, mas parece uma piada esticada. Amanhã, às 15h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, José Mojica Marins, Jorge Olguin e Rodrigo Aragão participam da mesa-redonda O Lugar no Cinema Fantástico, para avaliar esse tipo de cinema. A mediação será do também cineasta Dennison Ramalho, a quem se deve o premiado curta Amor Só de Mãe. Serviço SP Terror - Festival Internacional de Cinema Fantástico. Reserva Cultural. Avenida Paulista, 900, telefone 3287-3529. R$ 13 e R$ 50 (passaporte pa-ra 10 filmes). Até 2/7. Abertu-ra hoje, às 21 h, para convidados, com a exibição de Halloween - O Início, de Rob Zombie

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