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Sarah Morris exibe suas obras inspiradas em São Paulo e no Rio

Artista anglo-americana faz sua primeira mostra individual no Brasil, apresentando série de pinturas abstratas e filme realizado em 2012

Por Camila Molina
Atualização:

 Do caminho entre o Jardim Paulista até o centro de São Paulo, a artista Sarah Morris vai fazendo considerações sobre a cidade – tantas grades nos edifícios “falam da história política do Brasil aqui e agora” e os fios e cabos emaranhados pelas ruas, vistos do carro, são “completamente ultrajantes”. “Esse espírito de reaproveitamento e improvisação sempre me arrebatou; essa maneira de reinventar a arquitetura, espaços públicos, propósitos de prédios, me pareceu uma certa liberdade”, diz, até chegar à Galeria do Rock, na Avenida São João. A localidade, visitada por ela “em 2009 ou 2010”, dá agora título a uma de suas pinturas geométricas, criada em 2014, como também à sua primeira exposição individual no Brasil, a ser inaugurada hoje, 7.

Artista anglo-americana Sarah Morris e a Galeria do Rock, no centro de São Paulo Foto: EVELSON DE FREITAS/ESTADÂO

“O título da mostra é uma piada interna minha”, afirma Sarah Morris, de 47 anos, que nasceu no Reino Unido, mas prefere ser considerada americana por viver há anos em Nova York. É uma espécie de jogo que se refere ao fato de expor em uma galeria, no caso, no espaço paulistano da britânica White Cube – e relacionar esse fato a uma consideração sobre o mercado – “a arte nunca escapa da commodity”.“A Galeria Rock em São Paulo é um lugar onde todos os interesses esquisitos coexistem e é como se isso não fizesse sentido: Você tem o mundo da arquitetura, o mundo da música, o mundo pop, desenhos gráficos horríveis, tantas coisas diferentes”, diz. “É um grande mercado com diferentes fachadas da sociedade”, completa.

Pintura Galeria do Rock, deSarah Morris, em mostra na White Cube São Paulo Foto: DIVULGAÇÃO

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Artista de um discurso engajado – “no meu trabalho, tento não segregar as influências”, Sarah Morris exibe na mostra Galeria do Rock uma série de pinturas abstratas recentes feitas em tinta residencial a óleo e inspiradas em suas passagens pela metrópole paulistana. As obras recebem títulos de outras localidades de São Paulo, como Praça do Patriarca e Avenida Ipiranga, e feitas em composições coloridas de formas geométricas, representam a “essência” de suas experiências. Mas a anglo-americana tem uma forte relação com o Rio de Janeiro também. Sendo assim, ela aproveita a ocasião para expor na White Cube, ainda, algumas telas de referências cariocas (como Posto 9), e exibir, a partir de terça-feira, 10, na Galeria Fortes Vilaça, seu filme Rio, realizado em 2012.

Com quase 89 minutos de duração, a obra cinematográfica, sua 11.ª do gênero, é uma sequência de imagens (sem som ambiente, mas acompanhadas de trilha sonora) que captam o ritmo do cotidiano carioca entre trabalhadores simples, personalidades como Oscar Niemeyer (que aparece como o ator Vincent Price, ela brinca, filmado em seu escritório, sobre uma cadeira de rodas, pouco tempo antes de sua morte) e Danuza Leão, edifícios, menção ao carnaval, paisagens e o mar. “Fui ao Rio muitas vezes, tenho um grupo de amigos brasileiros, e há muito tempo, de fato, sempre me pareceu que havia algo de muito específico na velocidade da cidade”, conta a artista. “Quando falo da improvisação da arquitetura e da aproximação que tive com a cultura daqui, achei que também seria interessante captar isso em um filme”, completa a criadora, que desde os anos 1990 “investiga tipologias urbanas e sociais”.

Sarah Morris participou da 25.ª Bienal de São Paulo sobre as metrópoles, com trabalho sobre Nova York. Para ela, suas obras pictóricas e cinematográficas são “os dois lados de uma mesma moeda”. “Os filmes são um índex de tudo o que quero colocar nas pinturas, tudo o que me inspira e pelo qual quero estar engajada”, considera a anglo-americana, que exibe ainda pôsteres de cinema – entre eles, o de Fitzcarraldo, de Werner Herzog – com suas intervenções.

EM MOSTRA COLETIVA NA WHITE CUBE SÃO PAULO, NOVAS PESQUISAS

Além de Galeria do Rock, de Sarah Morris, a White Cube inaugura hoje a coletiva Até Aqui Tudo Bem, com curadoria de Fernanda Brenner, pintora e diretora do espaço Pivô. “O tema está muito relacionado ao meu pensamento como artista”, diz a curadora, que se baseou na questão da iminência e na metáfora sobre o status das informações tendo como mote o mistério das caixas-pretas dos aviões para conceber a exposição, cujo título é inspirado em filme de Kassovitz. 

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Dos participantes, o belga Kris Martin e o polonês Miroslaw Balka são do time da galeria, mas a mostra ainda traz obras dos novos Bernardo Glogowski (destaque para suas pinturas), Daniel Albuquerque, Frederico Fillipi e Rita Vidal. 

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