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Salvação pela palavra

Finalista do Booker Prize, o autor neozelandês Lloyd Jones retrata, em O Sr. Pip, as esperanças de um povo em guerra

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Por Ubiratan Brasil
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O assombro ainda não abandonou o escritor neozelandês Lloyd Jones. Desde que seu livro O Sr. Pip tornou-se o azarão entre os finalistas do Man Booker Prize deste ano, ele não vive sossegado - a obra já foi traduzida para várias línguas e sua agenda vive carregada de entrevistas. "Nunca imaginei, por exemplo, que teria leitores no Brasil", disse ele ao Estado, em entrevista realizada por telefone desde Berlim, onde participa de um curso para escritores. A razão é a singeleza com que retrata a força das palavras em uma comunidade do Atlântico Sul amedrontada pela luta armada. O livro, que ganha agora uma versão nacional pela Rocco (272 páginas, R$ 34), é narrado do ponto de vista de Matilda, uma menina de 13 anos que, como os demais habitantes da ilha de Bougainville, sofre com as graves conseqüências de uma guerra civil, no início da década de 1990. Todos os brancos deixam a ilha, exceto um, Mr. Watts, ou Olho Arregalado, como todos o chamam. Homem misterioso e excêntrico, um terço mais alto que qualquer habitante da ilha, ele decide retomar a educação das crianças e, para isso, promove a leitura de Grandes Esperanças, clássico de Charles Dickens, cuja prosa original é rica em símbolos. As palavras, de fato, encantam os alunos, em especial aquelas que retratam as aventuras do personagem principal conhecido como Sr. Pip. E Matilda aprende a sonhar com uma vida melhor e a possuir suas próprias esperanças. Em pouco tempo, o impacto da leitura e o bom entrosamento de Olho Arregalado com as crianças mobilizam a comunidade, que se divide entre os simpáticos à causa e os invejosos. O que o professor não poderia esperar era que a fama de Sr. Pip também chamasse a atenção dos "peles-vermelhas", invasores que travam uma guerra suja contra os rebeldes locais, apelidados de "rambos". Todos querem saber, afinal, quem é o perigoso e subversivo Sr. Pip. "O processo de transformação dessas pessoas é que o mais me interessava retratar", conta Lloyd Jones, que disputa o Booker Prize com o britânico Ian McEwan, favorito por Na Praia (Companhia das Letras). Concorrem também a britânica Nicola Barker (Darkmans); a irlandesa Anne Enright (The Gathering); o paquistanês Mohsin Hamid (The Reluctant Fundamentalist); e anglo-indiana Indra Sinha (Animal?s People). O resultado será divulgado no dia 16 de outubro.

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