Rosa prepara projeto de sambas e relança Curare

Além de ter sido o primeiro CD gravado no Brasil, o álbum de 1991, que teve o toque do bossa-novista Aloysio de Oliveira, abriu as portas para ela no exterior

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Por Lauro Lisboa Garcia
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Rosa Passos, que se lançou como compositora em 1979, só foi se firmar como intérprete a partir de Curare, álbum de 1991 que passou anos fora de catálogo e acaba de ser reeditado pela DeckDisc. Agora, na seqüência de Romance, uma coleção de canções tranqüilas, ela se prepara para realizar um projeto só de grandes sambas para 2009. "Vou garimpar Cartola, Paulinho da Viola, João Bosco, Djavan, Chico Buarque, Baden Powell, e fazer uma coisa bem pensada, com calma", adianta a cantora. Comparada desde há muito tempo com João Gilberto, a conterrânea baiana justifica a fama tornando novas as coisas que sempre parecem iguais. Num concerto memorável em São Paulo em 2002, João Gilberto, num lapso de bom humor contra os que reclamam que ele sempre canta as mesmas músicas, saiu-se com esta: "Mas as notas são mais velhas que as músicas, e são sempre as mesmas notas." Só que - quem se aprofunda em detalhes sabe - João nunca toca a mesma canção duas vezes da mesma maneira. Rosa - como Elis Regina, sua outra grande fonte de inspiração - também é capaz de fazer tudo diferente com as mesmas notas, sempre buscando outros modos de interpretação. "Eu com minha banda, cada vez que a gente toca uma música procura um diferencial. Cada concerto é um estudo", diz a rigorosa cantora. "É um dom divino essa capacidade de encontrar vários caminhos. Isso vem também muito de ouvir João, jazz e Johnny Mathis." Basta ouvir as clássicas Fotografia (Tom Jobim), Coisa Mais Linda (Carlos Lyra/Vinicius de Moraes), Aquarela do Brasil e Folha Morta (ambas de Ary Barroso) nas versões refrescantes de Curare. Além de tudo o que representa para a cantora, este foi o primeiro CD gravado no Brasil e abriu as portas para ela se no exterior. Recebida hoje como diva do jazz (e uma das mais importantes cultivadoras da bossa nova ) no Japão, nos Estados Unidos e Europa, Rosa recentemente foi ovacionada por 1.700 pessoas no Teatro Coliseo, em Buenos Aires, onde encerrou um festival de jazz. Com arranjos e regências de cordas de Waltel Branco, Curare foi produzido por João Augusto, mas foi Aloysio de Oliveira o agente motivador de sua realização. Aloysio, nunca é demais lembrar, além de compor temas imprescindíveis da bossa nova com Tom Jobim (como Dindi, que Rosa recriou), foi responsável pelo lançamento da pedra fundamental Chega de Saudade, de João Gilberto, e fundou nos anos 1960 a lendária gravadora Elenco. A aposta na bossa, no balanço e no talento de Rosa, como ele descreveu no encarte de Curare, recolocou-a no circuito. Antes disso, Rosa só tinha lançado o promissor Recriação, todo de composições dela e de Fernando de Oliveira. Depois disso, sumiu de cena por uma década. "Naquela época estava mais em casa, cuidando da família, não tinha nenhuma perspectiva, mas também não estava buscando", lembra. "Esse disco surgiu por causa de Aloysio, que já tinha me visto tocar violão e tinha gostado. No começo dos anos 90, ele estava dirigindo uma série de comemoração de dez anos do Projeto Pixinguinha e eu fui convidada a participar." Rosa escolheu o repertório com Aloysio e Umberto Contardi, que assina a direção-geral do CD. Naturalmente, ela evoluiu como intérprete nesses 17 anos que a separam de Curare, mas o estilo de cantar e tocar, bem como a predileção por compositores como Tom Jobim e Djavan vêm daí. "Jobim gostava desse disco, mas eu ainda estava engatinhando, me descobrindo como intérprete, apesar de já ter dentro de mim essa coisa da colocação do estudo do canto. Isso facilitou bastante. Ficou do jeito que eu queria, era o que eu poderia me dar, mas naturalmente hoje eu faria muita coisa diferente."

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