PUBLICIDADE

Romantismo que flerta com emoção e palavras

Fases do Coração é o segundo trabalho de Moyseis Marques

Por Francisco Quinteiro Pires
Atualização:

Moyseis Marques trocou a razão pela emoção. Em Fases do Coração, seu segundo CD, ele se entregou ao romantismo. "Samba romântico remete a outra coisa, é uma palavra deturpada, é referência de má qualidade." Para escapar ao preconceito, Moyseis dedicou-se às letras. É perceptível tanto o cuidado na escolha das palavras quanto na divisão rítmica do canto, que neste disco ganha acento mais grave. "Não sei se é a idade ou o estudo, o fato é que estou deixando de ser tenor para cantar como barítono", diz. Ouça trecho de Fases do Coração O gosto pela sonoridade das palavras é a principal influência deixada em Moyseis por Luiz Carlos da Vila (1949-2008), que aparece em Oitava Cor (parceria com Sombra e Sombrinha), uma das duas regravações: a outra é Subúrbio (Chico Buarque). O romantismo para o sambista de 30 anos, da Vila da Penha, não se refere só às relações conjugais, mas às coisas suburbanas, como mostram a canção do Chico e Cartas de Metrô (Moyseis Marques). O samba que dá nome ao CD tem algo de Luiz Carlos da Vila na melodia e na letra. Fases do Coração, parceria com Edu Krieger, fala do fim do amor e da necessidade - e dificuldade - do luto. O consolo, diz a letra, é perceber que "Do impasse nasce mais uma canção." "Coração que quando sofre/ Nem por Deus volta ao normal/ (...) Nem viola em lua cheia/ Nem mudança de postura/ Nem Cartola, nem Candeia/ Que ameniza, mas não cura." Bela sacada a que diz ser o samba apenas uma anestesia, e não a cura, para o golpe que o tempo talvez seja capaz de cicatrizar. Oito das 13 faixas são de Moyseis. Mágoa (Roque Ferreira e Toninho Geraes), Sonho e Saudade (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho) e Lá se Foi Meu Verão (Evandro Lima e Marquinho China) são as exceções. Pretinha, Joia Rara, que chegou a Caminho das Índias, novela da Globo, está no CD. Zé Paulo Becker, outro dos parceiros, fez Tem Hora. "Tem hora que é pra perceber/ tem hora pra cegar." Boa dica para quando os afetos baterem à porta.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.