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Rock e samba ganham mais espaço

Além da onipresente axé music, o Festival de Verão se renovou na mistura sonora, apostando em outros nichos com sucesso

Por Lauro Lisboa Garcia e SALVADOR
Atualização:

O resultado do Festival de Verão, de Salvador, de 2008, não foi dos mais animadores. O público caiu proporcionalmente à programação. Para o bem-estar geral, a edição de 2009, a 11ª, que terminou ontem de manhã, ganhou pontos com a renovação em diversos aspectos. A primeira mudança, que salta aos olhos, foi em relação ao projeto visual. Os ambientes de todas as áreas do imenso Parque de Exposições estavam mais limpos, sem os excessos de propaganda dos patrocinadores que cansavam a vista do público. A segunda e bem-vinda novidade foi a criação de dois novos espaços - o Boteco do Samba e a Arena (também apelidada de Concha Acústica do Festival), que ficaram lotados em quase todos os shows. O projeto foi tão bem-sucedido que, segundo os organizadores, as duas áreas serão ampliadas em 2010. Na Arena, o melhor show foi o do Cordel do Fogo Encantado, com o talentoso Lirinha à frente, que tocou na quinta para fãs alucinados com sua poesia rascante, embalada por muita percussão. Boa surpresa foi a apresentação da banda O Círculo, de Salvador. Com canções redondas e contagiantes, bons músicos e um vocalista carismático, a banda tem potencial para se projetar Brasil afora. Na mesma noite ainda teve Cascadura, também soteropolitana, afirmando com todos os riffs que a Bahia tem rock dos bons, além de Raul Seixas. A "coerência" que a imprensa cobra da programação do palco principal, e que não vai mudar, é o que pauta os dois novos espaços. A salada musical deste ano teve até tema definido, Movido pela Mistura, se bem que este sempre foi o perfil do evento. A Arena começou, na quarta, com uma sessão de música baiana de carnaval, com o antológico Gerônimo, Rei Momo deste ano, o Motumbá e o Ara Ketu, entre outros. Na quinta, o rock ficou em evidência. Na sexta foi a vez do reggae e no sábado, uma boa mistura do pop-rock baiano atual, com destaque para Lampirônicos, Moinho, em performance dançante e animadíssima, e a ótima banda de rock instrumental Retrofoguetes, que no fim prestou homenagem a Dodô e Osmar, os inventores da guitarra baiana. Além dos shows, o projeto da Arena, com direção artística de Fernando Guerreiro, trouxe como novidade entrevistas feitas com os artistas nos intervalos, com participação do público. Ao fim de cada apresentação, integrantes da banda que viria a seguir participavam do show da outra, fazendo duetos. Tudo muito bacana, mas ainda falta resolver uma questão crônica do festival, que é o vazamento de som de um espaço para outro. O Boteco do Samba ferveu o tempo todo. E, como na Arena, teve gente que foi ao festival só para ficar ali, onde se apresentaram nomes de peso do samba atual, como Dudu Nobre e Arlindo Cruz. Na quarta, foi a consagração de Mariene de Castro, a grande revelação da música baiana de raiz desta década. É outra que tem tudo para virar ídolo nacional, com uma voz poderosa, repertório impecável e uma presença de palco iluminada. Mesmo com mais de duas horas de atraso, por problemas técnicos, o público não arredou pé e foi brindado com um show arrebatador, com muito samba de roda, Dorival Caymmi, Roque Ferreira, Caetano, Geraldo Pereira, Roberto Mendes e o comovente ijexá É d?Oxum, que o autor, Gerônimo, também já tinha cantado. É mais do que oportuno que eles e Daniela Mercury - no momento em que facções obscurantistas tentam sufocar a cultura afro-baiana por preconceito religioso - tenham realizado (na mesma noite) shows com elementos do candomblé. Daniela, como sempre, fez a diferença no palco principal. Contando com a participação do Balé Folclórico da Bahia, ela mandou bem numa mistura sonora que pode se chamar de "tecnomacumba", como cravou Rita Ribeiro, e muito samba-reggae, culminando com hits do carnaval e duetos com a convidada Margareth Menezes. O palco principal (que deve perder esse nome porque a ideia é pulverizar cada vez mais o conceito de diversidade e igualdade de importância entre os espaços do festival) mantém na grade outros onipresentes astros da axé music: Ivete Sangalo, Chiclete Com Banana, Asa de Águia, Eva, etc. Além deles, vêm os grupos de pop-rock de maior popularidade, como O Rappa, Jota Quest, Capital Inicial. Ana Carolina estreou no evento na quinta-feira com enorme sucesso, cantando para cerca de 50 mil pessoas. Isso é o que aparece na televisão, é o que atrai a maior parte do público, é o que os próprios frequentadores escolhem para ver ali via internet. Por outro lado, esse mesmo público surpreende ao votar no Mercado Mundo Mix como uma das coisas mais bacanas da história do evento. Por isso, Beto Lago veio de Portugal para se restabelecer no parque, oito anos depois, entusiasmado. Para 2010, o Festival de Verão promete também abrir espaço para exposições de artistas plásticos, que devem colaborar no projeto visual do evento. Enfim, o que os produtores dizem é que querem ampliar as opções para todo tipo de público, conferindo também um caráter cultural, além do entretenimento, nesse grande parque de diversões musical.

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