Robert Glasper é o novo fenômeno do piano jazzístico

Revelação contratada pela Blue Note abre festival com seu já afamado trio

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Por Jotabê Medeiros
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O mais novo fenômeno do piano no jazz, Robert Glasper, conseguiu a proeza de ter um convite para gravar pela prestigiosa Blue Note Records com apenas 28 anos (o único novo pianista a entrar nesse cast em meia década). Foi assim que, há dois anos, lançou Canvas, que o fez ser comparado por Ben Ratliff, do New York Times, aos unânimes Brad Mehldau e Jason Moran. A "ficha" de Glasper, que abre hoje o Bridgestone Festival, pode assustar os mais tradicionalistas: ele tem colaborações com os rappers Mos Def, Buster Rhymes e Q-Tip (do grupo A Tribe Called Quest), seus amigos pessoais. "Esses caras têm uma admiração legítima pelo jazz, e às vezes eu chego na casa de Q-Tip e a gente pode ficar horas falando sobre nossos discos preferidos de jazz", conta Glasper. Filho de uma famosa cantora e pianista de R&B, Kim Yvette, Robert Glasper cresceu em Houston. Tocava em igreja aos 12 anos e, filho único, acompanhava a mãe em estúdios, porque ela não confiava deixá-lo com estranhos. Foi assim que se familiarizou muito cedo com o cotidiano da vida no show biz (a mãe morreu há três anos, e ele dedicou a ela uma de suas mais belas composições, Tribute). Em 2003, por um selo indie, lançou Mood. Depois veio a poderosa Blue Note. Seu estilo pode ser às vezes comparado ao de Ahmad Jamal, Herbie Hancock e Chick Corea. Como Brad Mehldau, ele também gosta de amplificar o repertório do gênero que escolheu, e seu novo disco tem uma canção do Radiohead, Everything in its Right Place. Curiosamente, ele estudou, em Houston, na mesma escola de onde saíram Jason Moran (outro transgressor que gosta de trazer para o jazz o som de pioneiros do hip-hop, como Afrika Bambaataa) e a cantora Beyoncé Knowles. Já vivendo em Nova York, tocou com músicos como Russell Malone, Kenny Garrett, Roy Hargrove, Terence Blanchard, Carla Lundy, Carly Simon e Christian McBride. Mas foi como bandleader, com seu trio, fazendo temporadas em lugares como o famoso Village Vanguard, que a reputação cresceu - toca com o baixista Vincent Archer e o baterista Damion Reid (ou, eventualmente, Chris Dave). Em seu disco, Canvas, ele tinha ainda a participação de um saxofonista e de um cantor. "Mas, quando estou em turnê, não tenho convidados. Acho importante mostrar só o trio, para introduzir esse grupo às plateias do mundo", explica. Seu conceito de jazz é intrinsecamente ligado à noção de hip-hop. O disco que lançou em 2007, In My Element, mostra claramente essa intenção de fazer uma ponte entre gerações. "Eu sinto a responsabilidade porque muitas pessoas da minha idade ou mais novas não se sentem atraída pelo jazz", ele diz. "Eles até flertam com o jazz, mas não querem se casar com ele." O álbum ganhou quatro estrelas da prestigiosa revista DownBeat, e foi considerado por um crítico um trabalho com "melodias acessíveis, batidas tumultuadas e brilhante lirismo". A revista Vibe, especializada em hip-hop, escreveu que ele transformava Roy Hargrove e Mos Def em "aliados naturais". Ele também atua como diretor musical da trupe de Mos Def. Além de suas contribuições com Q-Tip, ele também já foi visto tocando com The Roots, Common, Jay Z, Talib Kweli, Slum Village, Ledisi e M?Shell Ndegeocello, entre outros. "Cresci ouvindo todo tipo de música. É natural para mim passar de uma coisa a outra. Mas eu sei como manter as coisas separadas", diz. A exemplo de Bill Charlap, Mehldau e Jason Moran, Glasper se dispõe a escrever um novo capítulo na saga do piano jazzístico.

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