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Rio Folle Journée começa a 3.ª edição com Mozart introspectivo

Com 38 concertos dedicados ao compositor, mostra ocupa 6 palcos da cidade

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Por João Luiz Sampaio
Atualização:

Um Mozart introspectivo abriu na noite de quarta-feira a terceira edição da Rio Folle Journée, festival que até amanhã vai ocupar seis palcos da cidade com 38 concertos dedicados à obra do compositor. Na estreia, subiram ao palco os músicos da orquestra formada especialmente para o evento, comandados pelo maestro Roberto Tibiriçá e acompanhados da pianista Sonia Goulart. No programa, a Sinfonia nº 40 e o Concerto para Piano nº 20. É curioso como Mozart transformou-se em nosso imaginário com o passar do tempo. Uma obra como a Sinfonia nº 40, por exemplo, foi tratada por Schumann como símbolo de "leveza e graciosidade". Já o crítico Charles Rosen, nosso contemporâneo, se refere a ela como obra de "paixão, violência e dor". O fato é que Mozart comporta muitas e nada óbvias leituras, que se percebem tanto na busca individual dos intérpretes como na combinação dos programas. Vistos em conjunto, a sinfonia e o Concerto nº 20, por exemplo, relembram um compositor mais próximo do fim de sua vida, às voltas com a tentativa conturbada - e logo abandonada - de conquistar o público vienense. Da mesma época, é o Trio K 564, apresentado na tarde de quinta pela pianista Fany Solter, o violinista Daniel Guedes e o violoncelista Fábio Presgrave. Aqui, alguns contrastes. De cara, fica difícil relembrar por meio da música o contexto político complicado e as dificuldades financeiras enfrentadas pelo compositor. Mas o primeiro movimento se encerra em um clima mais sombrio; em seguida, uma melodia gentil, tema que passa por diversas variações, até que, na quinta delas, assume formas trágicas em sua simplicidade. São muitos os mundos sugeridos por Mozart. E ponto para os intérpretes que nos revelam a possibilidade de cada um deles - Fany Solter, brasileira radicada há décadas na Alemanha, dá lição de música de câmara ao lado de dois de nossos mais celebrados jovens solistas. Na quinta, a Folle Journée ainda começava a ganhar ritmo - o maior número de concertos está previsto para hoje e amanhã. Mas alguns destaques já se desenham. A pianista francesa Anne Queffélec ofereceu leituras espontâneas das sonatas K. 330 e K. 331, esta última uma de suas mais célebres composições. A Orquestra Rio Folle Journée saiu-se bem também em seu segundo programa, com o célebre concerto para clarinete com Roman Guyot, intérprete de musicalidade madura, e o Concerto para Violino nº 3, com solos do violino do checo Pavel Sporcl, que chama mais atenção pela cor azul (é isso mesmo, o violino do moço é azul, mas não perguntem por quê) do que pela interpretação, correta apenas. O coro Calíope também deu as caras já na quinta, na Igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa, com um programa inteligente, que mostra a influência de Mozart na música brasileira de sua época. E a maratona está só começando.

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