Reflexões morais de um pecador

Chega às livrarias o relato biográfico do maior nome da arte pop, A Filosofia de Andy Warhol, escrito em 1975 e traduzido pela primeira vez no Brasil

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Por Antonio Gonçalves Filho
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O livro já começa com uma conversa maluca ao telefone entre Andy Warhol (1928- 1987) e uma enigmática pessoa simplesmente chamada de B., a quem pede conselhos e faz confidências do tipo "minha grande ambição é comandar um show de televisão". B. responde que é uma ambição chinfrim, que o rei da pop art (ou "rainha") deveria pensar alto, algo assim como ser presidente dos EUA e receber seus convidados cada dia com uma peruca diferente. Ia ser igualzinho como na Factory, estúdio de Warhol, mas "tudo à prova de bala", garante a voz do outro lado da linha - menção ao atentado de Valerie Solanis em 1968, que o feriu com um tiro. Quase seduzido pela idéia de ser presidente, Warhol prova que falava sério ao se definir como uma pessoa "profundamente superficial". Duvida? Então, o livro A Filosofia de Andy Warhol (Editora Cobogó, tradução de José Rubens Siqueira, 272 págs., R$ 43) talvez desfaça suas dúvidas a respeito da principal figura do movimento de arte pop norte-americana, que teria completado 80 anos este ano, não fosse uma operação de vesícula há 21 anos. O livro, best-seller no original, estranhamente só agora ganha sua tradução brasileira. Publicado em 1975, seus verdadeiros autores são a secretária do pintor, Pat Hackett, e o ex-editor da revista Interview, Bob Colacello, que depois escreveria horrores sobre Warhol no livro Holy Terror (1990). Colacello o define como "um fofoqueiro milionário, espertíssimo nos negócios, que fingia não estar nem aí com o que se passava ao redor". A secretária Pat Hackett, antes dele, publicou Diários de Andy Warhol (LP& M, 1989, 799 págs.). Neles, antecipou a observação de Colacello sobre a vocação mundana do ex-patrão. Nem precisava. Dois filmes produzidos por Andy Warhol e agora distribuídos em DVD pelo selo Magnus Opus - A Revolta das Mulheres (1971) e Flesh for Frankenstein (1973), ambos dirigidos por Paul Morrissey - comprovam seu gosto pelo bizarro e sua inclinação para o escândalo.

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