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Refletindo sobre as dores de amores

O Silêncio dos Amantes comove o público no Rio ao falar de dificuldades ligadas ao afeto e à comunicação dos que se amam

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Um garoto anão sofre por se sentir rejeitado pelo pai e pelo mundo; um casal se distancia, vítima da rotina; um filho relembra a dor de conviver com a mãe já falecida, alcoólatra; uma mãe chora o desaparecimento de seu caçula na mata. Do texto da escritora gaúcha Lya Luft, autora do best-seller O Silêncio dos Amantes, saíram as personagens da peça homônima dirigida por Moacyr Góes, que estreou na última terça-feira no Teatro Maria Clara Machado, no Rio, e vem emocionando a plateia. Góes e o grupo que montou há um ano e meio, a Cia. Escola 2 Bufões, formada pelos atores Leon Góes (seu irmão, com quem já trabalha há 20 anos), Giselle Lima, Carla Rosa e Augusto Garcia, ensaiaram os vinte textos do livro. Chegaram a quatro - um monólogo para cada ator. "Escolhi os textos em função do elenco. Há outros muito bonitos, sempre sobre uma falta, alguém que não cumpriu seu papel, seja o filho em relação à mãe, o marido, à mulher", diz Góes. Ele ficou tocado com a reação do público. "Quando eu escolhi fazer esta peça, queria emocionar, porque teatro não pode ser só comédia. Se não fosse emocionante, não teria dado certo." Escritos na primeira pessoa, os textos sensibilizam por serem diretos, por colocarem o dedo na feridas de todos, expondo, como aponta o diretor, "a crueza das emoções das personagens" - como a da mãe que se dá conta de que a cumplicidade extrema que ela acreditava ter com o filho só existia na sua imaginação. Ou da mulher que repentinamente se dá conta de que "as coisas não ditas (entre ela e o marido) haviam crescido como cogumelos venenosos nas paredes do silêncio." Ou ainda do jovem que relembra a felicidade de estar com a mãe sem que, ao menos aquela vez, ela estivesse cheirando a alguma bebida alcoólica. Desde o início desta década também diretor de TV e cinema, Góes, que vira cinquentão em 2009, está contente por ter uma companhia novamente. Ele começou fazendo teatro em grupo e sentia falta disso. Para estrear O Silêncio dos Amantes, ensaiou um ano. Os atores interagem com uma grande caixa de madeira, de onde entram e saem e na qual guardam objetos. Sem patrocínio, Góes usou dinheiro próprio na montagem (ganho com cinema e, mais recentemente, com a campanha política de Fernando Gabeira à prefeitura do Rio, cujos programas de TV ele dirigiu). O diretor já tinha o desejo de falar sobre as dificuldades relacionadas ao afeto e à comunicação entre os que se amam quando leu o último livro de Lya Luft (que acabou vendendo mais de 95 mil exemplares, segundo a editora Record, tendo permanecido por 22 semanas na lista dos mais vendidos). Escolheu falar através das palavras da escritora - não tentou adaptar seu texto para diálogos, a fim de manter sua força. A peça deverá ir para São Paulo no segundo semestre.

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