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Raridades no fundo do oceano

Do litoral da Bahia ao Maranhão, cenários deslumbrantes em mais de 750 barcos afundados

Por Aryane Cararo
Atualização:

Na imensidão azul da costa nordestina, os gigantes que atravessaram tormentas, enfrentaram batalhas e cruzaram os sete mares descansam nas profundezas. Avariados, foram abatidos por torpedos, pelo mau tempo ou por acidentes que marcaram a história náutica brasileira. Afundaram, mas não ficaram restritos aos registros históricos. Podem ser desvendados por qualquer um que vista uma roupa de mergulho e esteja disposto a encarar a aventura debaixo d?água. No Nordeste, onde as águas claras banham a maior parte do litoral, Salvador e Recife despontam como pólos de mergulho. Pudera: só a Bahia tem mais de 200 embarcações naufragadas e Pernambuco, cerca de cem. "Tem tanto navio que há até um em cima do outro, como é o caso do Bretagne e do Germânia, que se misturaram na Baía de Todos os Santos", conta o biólogo e mergulhador Maurício Carvalho, que criou e atualiza o Sistema de Informações de Naufrágios (Sinau). "E não é por acaso que Recife é chamada de a capital brasileira dos naufrágios", explica Carvalho. "São 20 pontos muito visitados, de Porto de Galinhas a Itamaracá." Na orla pernambucana, aliás, costuma-se afundar navios para criar recifes artificiais - que são usados para proteger a fauna e a flora marinha e, de quebra, para beneficiar o setor turístico. Mas não é só uma questão de números. É nesses pólos que estão os "monstros dos mares", aqueles naufrágios com cenários de filme, seja pela imponência e conservação do barco como pelas imagens que a natureza esculpiu à sua volta - corais, tartarugas, peixes, tubarões e uma vasta vida marinha que se adaptou aos cascos dos navios. É verdade que alguns não têm como ser acessados. A maioria nem sequer pôde ser localizada. Pernambuco, por exemplo, tem apenas 31 barcos encontrados e a Bahia, 37. E nem todos oferecem boas condições de mergulho - e isso ocorre por várias razões, como baixa visibilidade, dificuldade de acesso ou ainda falta de segurança no local. ''FROTA'' Em toda a orla brasileira, há cerca de 2.200 embarcações naufragadas (mais de 750 só no litoral nordestino, da Bahia ao Maranhão), todas catalogadas pelo Sinau (www.naufragiosdobrasil.com.br). Dessas, 350 foram localizadas (ao menos 165 no Nordeste) e aproximadamente 250 podem ser visitadas. Antes que alguém pergunte, o campeão não está na orla nordestina: é o Estado do Rio Grande do Sul, com quase 300 naufrágios, dos quais apenas 3 puderam ser localizados com alguma precisão. A falta de transparência prejudica o mergulho em alguns Estados da região. Em Sergipe, a saída do Rio São Francisco impede a visualização, embora haja registros de naufrágios da 2ª Guerra Mundial. No Ceará, o mar agitado e escuro perto da costa não é convidativo. A orla do Piauí não tem boas opções. No Maranhão, a culpa é das águas turvas da Baía de São Luís. Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte reservam boas surpresas, apesar da menor quantidade de barcos afundados. Junto com os vizinhos mais famosos, são um convite para desvendar engrenagens, mastros, cabines, lemes, âncoras, casas de máquinas e cargas que nunca chegaram ao destino final.

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