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Quem detém os direitos pelas imagens, afinal?

O público deita e rola com câmeras, mas fotógrafos profissionais sofrem restrições

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Uma das cenas mais curiosas na área VIP do show do Police era um simpático moleque de uns 8 anos empoleirado no ombro do pai cantando com toda a força dos pulmões letras inteiras de Message in a Bottle, Don''''t Stand so Close to Me e outras. Daria uma bela imagem para ser publicada, mas os fotógrafos credenciados foram impedidos de fazer qualquer registro do público dentro do estádio. Um contra-senso ridículo na era do YouTube, das câmeras digitais de bolso, dos celulares capazes de captar imagens de alta resolução. Aos profissionais, confinados na sala de imprensa, só foi permitido registrar as duas primeiras músicas do Police. Depois deveriam sair do estádio. Enquanto o moleque se esgoelava no final de Syncronicity II, os fotógrafos já eram retirados da área na frente do palco. Um deles, na lateral, tentou um último clique na direção de Andy Summers e Sting, mas foi impedido pela mãozona do segurança na frente da lente. Na cara desse mesmo segurança, um dos convidados VIPs tirou da bolsa uma câmera semiprofissional, com lente dotada de zoom que dava pra ver os pés-de-galinha do cantor. Outro VIP com câmera de vídeo igualmente poderosa registrava músicas inteiras da banda. Nenhuma câmera de tevê teve permissão de gravar o show, por ser de exclusividade da Globo. Quando o Police esteve no Maracanãzinho em 1982, nem se sonhava com telefone celular no Brasil. Oi, alô, a realidade hoje, claro, é outra. Não se ganha mais dinheiro com vendas de discos, da mesma maneira como está fora de controle os direitos pela imagem. Antigamente, como eram poucos, os que levavam câmeras para os shows não passavam na revista e tinham de deixá-las na entrada. Na sala de imprensa, um dos fotógrafos profissionais comentou: ''''Os VIPs vão ter imagens muito melhores do que as nossas, porque além de terem recuo melhor vão poder ficar o show inteiro com suas maquininhas.'''' Episódios como esses vêm se repetindo. No show de Cat Power no TIM Festival, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, um fotógrafo tentou fazer uma imagem além do limite permitido (as tais das duas primeiras músicas) e quase apanhou de um segurança da cantora. Dois minutos depois ela chamou o público para mais perto do palco e o que se viu foi todo mundo levantar automaticamente as câmeras digitais e celulares, com 8, 10 megapixels. Uma piada. Qualquer um deles poderia vender as fotos para revistas ou jornais interessados. Seja decisão ''''da produção internacional'''' - como consta no relatório da assessoria de imprensa do Police para confirmação do credenciamento -, ou por norma das casas de shows, o aviso ''''é proibido fotografar ou filmar sem prévia autorização'''' caiu no vazio. O público descaradamente ignora. A democratização da imagem por esses meios é discutível, mas supostamente não traria maior prejuízo para os artistas do que a pirataria de CDs. Sting não vai ficar pobre por causa de uns pedaços de shows exibidos na internet. Vai lá no YouTube. Já tem um monte de cenas do show de anteontem no Maracanã, captadas pelo público, além das imagens gravadas da transmissão pelo canal Multishow. Da apresentação do Police na Argentina há 29 vídeos. Como brincou um fotógrafo, fazendo o trocadilho mais óbvio e repetido nos últimos dias, polícia para quem precisa.

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