Que Voz É Essa?

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Por Redação
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Os contratenores têm uma tessitura vocal correspondente à voz de contralto feminina. Há quem considere que o contratenor é a continuação da voz de tenor em registro agudo - foi assim que eles surgiram, no século 15. Mas também se costuma incluir nesse grupo os falsetistas, que usam o registro de falsete para alcançar as notas agudas. Não é, portanto, deslocado enxergarmos os contratenores como descendentes dos castrati, já que atualmente encontram no repertório deles o seu território privilegiado. Os castrati foram uma das inovações dos árabes em seus sete séculos de dominação da Península Ibérica: uma vez castrados entre os 8 e os 13 anos, os meninos conservavam miraculosamente a voz infantil e ao mesmo tempo seu crescimento físico proporcionava uma potência vocal impossível de se encontrar na voz feminina. A razão principal para esse procedimento era religiosa, já que na Igreja Católica as mulheres estavam proibidas de cantar nas missas. Mas os castrati se espalharam pelos palcos líricos e as salas da nobreza do século 18. Haendel, por exemplo, reservou para o castrati Senesini os papéis de maior destaque em suas óperas. Apesar da proibição de tamanha perversidade ainda no século 19, o último castrato, Alessandro Moreschi, cantou na Capela Sistina até 1913. Modernamente, o responsável pela ressurreição dos contratenores foi Alfred Deller (1912- 1979). Ele mesmo se qualificava como "alto", mas o compositor Michael Tippett recomendou-lhe a expressão "contratenor". Líder do Deller Consort nos anos 50 e 60, trouxe para o primeiro plano uma imensa quantidade de música vocal antiga até então quase desconhecida.

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