PUBLICIDADE

Profecias pesadas do Judas Priest

Guitarrista K.K. Downing fala ao Estado sobre o espírito de Nostradamus, o novo álbum do grupo que toca hoje em São Paulo

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

K.K. Downing, guitarrista do decano grupo de hard rock Judas Priest, é um daqueles britânicos que foram insanos, cabeludos e desregrados quando jovens. Mas que envelheceram bem: continuam cabeludos e excêntricos, mas agora são sofisticados, refinados e com uma abrangente consciência de seu papel no mundo do show biz. K.K. Downing é tipo Bruce Dickinson, o cantor do Iron Maiden. Kenneth "K.K." Downing é de West Bromwich, Inglaterra. Ali, garoto imberbe, comprou seu primeiro violão por 10 libras - a guitarra Gibson SG e o amplificador Marshall vieram a seguir e, aos 15 anos, com essas "armas" na bagagem, saiu de casa dos pais para ganhar o mundo. Conta que sua formação como guitarrista não foi tão difícil, tinha grandes mestres. "Ouvia Hendrix, John Mayall, Eric Clapton. Hendrix era quem me fascinava mais. Não acredito que algum dia alguém alcançará o nível dele", disse Downing ao Estado, em entrevista por telefone. "Nasci logo depois da Segunda Guerra Mundial, cuja repercussão se fez sentir por muito tempo. O planeta também estava em crise. Havia muita fome e as pessoas passavam necessidade. Essa crise a que estamos assistindo agora é mais uma dessas crises cíclicas do capitalismo, que vimos acontecer muitas vezes e que decerto continuarão acontecendo." O guitarrista festejará seus 57 anos no dia 27 deste mês. Velho conhecido dos fãs brasileiros, maestro do delírio no Rock in Rio de 2001, ele retorna hoje a São Paulo com sua banda - que ele lidera junto ao controvertido vocalista Rob Halford, talvez o mais assumido gay do heavy metal - para um show que, como de hábito, deve abalar os paralelepípedos da cidade. O Judas Priest tem quase quatro décadas de estrada, e não só pertenceu ao mainstream do metal como ajudou a criar aquilo que ficou conhecido como "new wave of british heavy", nos anos 1980, com álbuns como Screaming for Vengeance. Depois, chegaram a ser acusados de traidores do metal por terem colocado teclados demais em alguns discos. Downing diz que nunca viu estagnação no gênero. "Para ser honesto, a evolução do metal tem sido fantástica. No começo, apenas poucas pessoas ouviam. Hoje, ganhou o mundo todo. É bom ter sido parte disso e continuar sendo. Vimos surgirem novas bandas incríveis, como Metallica, Slipknot. Estou muito orgulhoso e é importante para a gente ir adiante, se renovar. Como ouvinte, gosto de muita coisa: jazz, folk, música clássica. Sou eclético. O Judas Priest chega a bordo de um disco que se pretende uma espécie de ópera-rock do metal, Nostradamus, lançado em junho, baseado nas visões e em fatos da vida do famoso profeta e astrólogo renascentista Michel de Nostradame (1503-1566). "Nós não estamos propagando crenças em profecias. Focamos no grande personagem histórico que ele foi, mais do que em um imaginário new age, de duendes e coisas assim. Ele foi submetido a processos, há grande dose de tragédia em sua história. Por meio disso, nós tentamos conduzir o ouvinte a outras coisas, como os conceitos de amor e felicidade, erro e boas novas, relações humanas e angústia." "É um disco conceitual, porque todas essas histórias estão amarradas em torno de um elemento central", afirmou. O vocalista Rob Halford, em entrevista recente, explicou da seguinte forma seu fascínio por Nostradamus. "Nostradamus, tão intrigante, misterioso e metal quanto ele foi, é o veículo que nós escolhemos para desenvolver nossa peça musical. Nós poderíamos ter usado um personagem ficcional, mas não teria a mesma substância. Vocês podem ir até uma livraria e dar uma pesquisada sobre esse homem e decidir por vocês mesmos sobre a sua lenda." Downing diz que tocar no Brasil é sempre "interessante e instigante", porque "todas as bandas de hard rock e heavy metal querem ir para a América do Sul, onde há um grande interesse pela nossa música".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.