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Precisão e sutileza com Tortelier à frente da Osesp

Repertório mostra que maestro sabe conquistar o público

Por Crítica Lauro Machado Coelho
Atualização:

O final de Nimrod, um crescendo nas cordas que se desfaz, de repente, num impalpável pianíssimo, exige do maestro precisão e sutileza. Yan-Pascal Tortelier sabe o que faz. Para o seu primeiro contato com a plateia paulista, num momento particularmente delicado da história da Orquestra Estadual, escolheu as Variações Enigma, porque essa peça de Edward Elgar - série de 14 retratos de seus amigos e dele mesmo - oferece ao regente as mais variadas oportunidades de mostrar o que sabe fazer. Seja na ágil tocata em 3/8 da segunda variação, seja na poética melodia da número 6, em que Elgar evoca a personalidade de uma amiga violista, cada vinheta foi tratada com bastante cuidado, extraindo sempre da orquestra sonoridades opulentas e de grande diversidade de colorido. Os pontos altos da série, como não podia deixar de ser, foram a encantadora nona variação na qual, sob o nome de Nimrod, o caçador da Bíblia, oculta-se Augustus Jäger, da editora Novello; e o final, a nobre melodia com que Elgar faz o seu autorretrato, e que dá à peça um encerramento solene. Assim preparado o terreno, Tortelier pôde, na segunda parte, realizar uma impecável leitura da vasta Sinfonia nº 2 em Mi Menor Op. 27, de Serguêi Rachmáninov, uma ampla estrutura que, para manter-se de pé, requer do regente uma visão orgânica e um grande senso de equilíbrio. E do Largo-Allegro Moderato com que a op. 27 se inicia, até a efervescente alegria de viver do Allegro vivace com que ela se encerra, foi isso o que se pôde observar: a capacidade que teve o maestro de manter sob controle todos os elementos dessa sinfonia cíclica, que se respondem e se complementam ao longo da peça. Aqui, importa menos atentar para os detalhes bem conseguidos - os coloridos arabescos do scherzo, que às vezes lembram Borodín; a cantilena do adagio que leva a assinatura inequívoca de Rachmáninov; as filigranas dos instrumentos solistas no virtuosístico movimento final - do que para o senso de coesão obtido pelo maestro de um movimento para o outro. Aqui também, e até mais do que na peça de Elgar, foi de nível muito elevado a qualidade da execução orquestral. A Osesp mostrou-se em seus melhores dias. Uma apresentação que, infelizmente, só teve uma nota desafinada: a presença intrusiva da parafernália de televisão - holofotes demasiado fortes, câmeras passeando entre músicos -, um tipo de trabalho que poderia ter sido feito de forma bem mais discreta. Serviço Osesp. Sala São Paulo (1.484 lug.). Pça. Júlio Prestes, s/n.º, tel. 3223-3966. Hoje, às 16h30. Ingressos de R$ 30 a R$ 104

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