Prática da lei é algo fluido, diz Turow

Autor de diversos best-sellers policiais, escritor americano lança Os Limites da Lei, em que trata de ameaças anônimas a um juiz

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Por Ubiratan Brasil
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Repetições não são habituais na obra do escritor americano Scott Turow, um verdadeiro campeão de vendas - mais de 22 milhões de exemplares arrematados nas livrarias desde sua estréia, em 1977. Mas, animado com o sucesso de Os Limites da Lei, publicado originalmente em capítulos ao longo de 2006 na revista dominical do New York Times, Turow decidiu condensar a história em um só volume, agora lançado pela Record (240 páginas, R$ 29). O livro traz de volta os personagens George Mason (de Ofensas Pessoais) e Rusty Sabich (Acima de Qualquer Suspeita), em uma atitude inédita de Turow, que ambientou a história no condado de Kindle, cenário habitual de seus romances. Mason, agora juiz do Tribunal de Apelação, encontra-se diante de um caso difícil. O tribunal aguarda sua sentença em um episódio de abuso sexual, o que ressuscita um antigo fantasma na vida do juiz. Para agravar a situação, ele começa a receber ameaças anônimas por e-mail. O mesmo caminho, aliás, que Turow, um advogado de 58 anos que esteve na Bienal do Livro do Rio de 2003, utilizou para responder às seguintes questões. Como surgiu George Mason? Ele apareceu inicialmente como um amigo de Rusty Sabich e Raymond Horgan, bêbado e desapontado na festa final da campanha eleitoral, após a derrota de Horgan. Ele foi mencionado como um amigo de Sandy Stern, a ajudou em suas batalhas com os procuradores federais, e apareceu anos mais tarde como o narrador de ofensas pessoais, um estimado advogado que acabou no banco das testemunhas. Por que escolheu esse título? Perguntar isso é um pouco como perguntar qual a moral da história. Limitações (que também é o título original do livro) se referem tanto ao conceito legal quanto ao conceito humano sobre aqueles que julgam. Você acredita que os conceitos fundamentais de certo e errado são constantes? Em um sentido amplo, com certeza são, a ponto de envolverem outros - pensamento, empatia, preocupação com o bem-estar geral. Mas, obviamente, a prática da lei é algo fluido. Você acha que a maioria das pessoas encontra significado na beleza ou na justiça - no lado de George ou de Patrice? Sem querer fugir da resposta, acho ambos importantes. Você acredita na necessidade de se mudarem as leis? Muitas leis precisam ser mudadas nos Estados Unidos. Pessoas com menor poder aquisitivo precisam de mais acesso aos tribunais, por exemplo. Os ricos ainda têm muita influência sobre todas as etapas da lei em meu país. Há uma pressão para escrever uma seqüência? Sim, costumo dizer que é como escrever com um abutre nos ombros. É mais fácil? Apenas no sentido de que já existe um universo preestabelecido - conheço o ponto de partida, mas sigo meu próprio caminho. Você disse que inicialmente planejava centrar a história em Sabich. Quando percebeu que tinha algo maior em sua mente para Rusty? Por cerca de um mês tive um post-it em minha mesa em que se lia ''''um homem está sentando em uma cama na qual está o corpo da mulher morta''''. Depois de alguns dias, percebi que o homem ali sentado era Rusty e que eu estava prestes a escrever a seqüência a que havia me negado por décadas. Você é um apaixonado pela lei, mas também pelo fracasso, a tentação e a redenção. A maioria dos advogados é movida por paixões similares? Isso não posso responder. Conheço muita gente que compartilha desses interesses. Outros amam o status e o dinheiro. A lei é apenas um microcosmos do universo humano. Advogados não têm melhor ou pior caráter que outras pessoas. Você esteve no Brasil há cinco anos. Em relação à lei brasileira, você se surpreendeu com a inexistência da pena de morte. Por quê? Em grande parte por minha ignorância. Americanos vêem a América do Sul como um local em que a democracia teve dificuldades para florescer e, então, não estão acostumados a pensar em avanços na área dos direitos humanos acontecendo por aí. Essa é uma visão muito limitante, burra. Aprendi melhor.

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