O pop dos anos 80 brindou com o hip-hop underground na noite de anteontem, no Parque do Ibirapuera. A proeza foi conquistada pelo Neon Neon, projeto de Gruff Rhys e Boom Bip, atração da tenda Novas Raves do TIM Festival. Ambos subiram ao palco diante de um público minguado, fosse pela chuva ou pelos ingressos vendidos a R$ 150. Apesar do som do Neon Neon soar basicamente eletrônico em seu álbum, Stainless Style, a banda se apresenta com baterista, teclados e contrabaixo imitando o design futurista de John DeLorean - engenheiro de carros que inspira as letras das músicas. O show não surpreendeu quem já conhecia o disco do grupo. Assim como em seu trabalho de estúdio, a apresentação foi aberta com a instrumental Neon Theme e encerrada ao som da fúnebre Stainless Style, sobre a morte de DeLorean. O espírito retrô (quase brega) de músicas como Raquel e Michael Douglas transbordava pelo palco. Do teclado em formato de guitarra até o timbre açucarado da voz de Cate Le Bon - convidada para cantar em I Lust U -, o grupo não deixa dúvidas do porquê ser um dos símbolos do revival dos anos 80 na música alternativa. Outras colaborações que aparecem no álbum fizeram falta no show. Entre elas, a das rappers norte-americanas Yo Majesty. A dupla canta na lasciva Sweat Shop e estava cotada para se apresentar no TIM Festival, mas acabou entrando para o rol de artistas que cancelaram sua vinda ao evento. Enquanto a apresentação em um geral não passou do morna, o convidado Har Mar - um sujeito baixinho vestindo luvas de paetê - roubou a cena. Fez malabarismos, cantou de cabeça para baixo em Trick for Treat e desfilou exibindo a barriga pálida, para o delírio do público. Rhys e Bip terminaram o show sozinhos, improvisando uma fanfarra eletrônica. Mas mesmo com os derradeiros berros de Rhys ao microfone, foram poucos os que se renderam ao charme cromado do Neon Neon.