Por meio da pintura, a paz que Clarice tanto buscava

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

Nunca exibidas em conjunto, 16 telas pintadas por Clarice Lispector em 1975, dois anos antes de sua morte, estão expostas na sede carioca do Instituto Moreira Salles. Quem tem curiosidade de conhecer sua porção pintora - tema estudado por analistas da obra de Clarice, por ter sido uma forma artística na qual, segundo relato próprio, ela encontrou a paz que a escrita não lhe trazia - deve prestar atenção às datas: a mostra fica em cartaz só até o dia 27.Os quadros foram emprestados pela Casa de Rui Barbosa, guardiã do acervo da escritora. Paulo Valente, seu filho, que doou ao IMS um conjunto de correspondências e manuscritos, além de duas telas, foi quem sugeriu a exposição.Clarice encarava a pintura como hobby - nunca teve aulas e não tinha qualquer pretensão como pintora. Por vezes, dava quadros a amigos, como os escritores Autran Dourado e Nélida Piñon. Gostava de criar ouvindo música clássica. Não havia expectativas quanto ao que sairia de seu pincel.Ela escreveu: "O que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar. (...) Pinto tão mal que dá gosto e não mostro meus, entre aspas, quadros, a ninguém. É relaxante e ao mesmo tempo excitante mexer com cores e formas sem compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço."Pintados com tinta guache, os quadros, em sua maioria com 40 por 50 centímetros, são abstratos e bem coloridos. Como Sem Sentido, em tons de rosa, lilás, vermelho e azul, do qual ela, ou melhor, a personagem de Água Viva, livro de 1973, fala. Nele, a pintora/narradora reflete sobre vida e arte; em certo momento, declara: "Quando estranho uma pintura é aí que é pintura."O IMS-RJ fica na Rua Marquês de São Vicente, 476, na Gávea. Com os quadros, estão expostos manuscritos, como os de Um Sopro de Vida (lançado postumamente, em 1978), em que a questão da pintura também se faz presente.

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