Polêmicas e cancelamentos marcaram seus últimos anos

Da dívida com o fisco italiano ao casamento com sua secretária, ele ocupou as manchetes com assuntos nada ligados à música

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Por João Luiz Sampaio
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Em maio de 2002, o diretor-geral do Metropolitan Opera House de Nova York, Joseph Volpe, subiu ao palco do teatro para comunicar ao público que o tenor Luciano Pavarotti não cantaria naquela que seria sua despedida do mundo da ópera. ''''Recebemos há pouco uma ligação informando que ele está gripado e que não poderá cantar. Pedi a ele que viesse pessoalmente explicar a vocês sua ausência, mas ele se recusou.'''' O cancelamento de última hora seria apenas mais um dentre muitos os episódios polêmicos que marcaram os seus últimos anos de carreira. Polêmicas, na verdade, nunca faltaram na vida de Pavarotti. A primeira delas surgiu no fim dos anos 70, quando ele e o colega espanhol Plácido Domingo brigavam pelo título de ''''o maior tenor'''' da época. Em setembro de 1979, a revista Time dedicou sua capa a Pavarotti, chamando-o de ''''O tenor de ouro da ópera''''; semanas depois, a Newsweek estamparia a foto de Domingo em sua capa, com a manchete ''''O Rei da Ópera''''. Exigências de cachês e regalias similares, a pressão pelas melhores récitas e produções e a troca de insultos entre fãs foram durante muito tempo os ingredientes da rivalidade entre os dois - defensores do espanhol exaltavam seu talento de ator; os do italiano, questionavam a ausência, em Domingo, dos agudos que fizeram a fama de Pavarotti. E assim por diante. A disputa chegaria ao fim com a reunião dos dois, mais José Carreras, para o concerto dos Três Tenores. Certo? Não exatamente. Herbert Breslin, então empresário de Pavarotti, lembra em sua biografia, The King and I, que um contrato feito às escondidas com a gravadora Decca garantiu a Pavarotti um cachê pelo menos meio milhão maior que o oferecido a Domingo e Carreras, que teriam condicionado uma nova reunião do grupo a uma equiparação nos cachês. ''''Os concertos dos Três Tenores eram amigáveis na superfície, mas a atmosfera nos bastidores não era exatamente de confiança'''', escreveu. O livro de Breslin joga luz sobre algumas outras polêmicas que marcaram os últimos anos profissionais de Pavarotti. Em maio de 2000, ele se encontrou com o ministro das finanças italiano para assumir uma dívida de cerca de US$ 12 milhões em impostos não pagos. Pouco antes, ele já havia ocupado as manchetes ao assumir o relacionamento com sua secretária Nicoletta Mantovani, 34 anos mais nova, pedindo divórcio da mulher Adua e casando-se novamente. A quem o indagasse sobre essas questões, no entanto, Pavarotti tinha uma só resposta: meu amor pela música é maior do que tudo.

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