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Pierre Huyghe exibe o filme ‘De-extinction’ e cria sala com insetos na 32ª Bienal de São Paulo

O artista francês apresenta peça sobre a evolução da espécies na Bienal, a ser aberta em 7 de setembro no Ibirapuera

Por Camila Molina
Atualização:

O filme De-extinction, do francês Pierre Huyghe, foi realizado em 2014, mas a obra ganha uma versão completamente nova – e literalmente viva – para a 32.ª Bienal de São Paulo, que será inaugurada para o público em 7 de setembro.

Em uma sala de 80 m², Huyghe exibe o vídeo que mostra o interior de uma pedra de âmbar, repleta de insetos. “É como se aquela situação estivesse congelada há milhões de anos”, descreve o artista, um dos mais importantes criadores contemporâneos. Microscopicamente, o francês filmou e criou belas imagens da resina fóssil e amarela – e em uma das passagens desta “jornada”, conta, é até possível ver, curiosamente, mosquitos em uma espécie de copulação eterna.

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De-extinction, entretanto, terá, no Brasil, uma segunda parte, inédita. Ao lado da projeção do filme – pela primeira vez, em grande escala para que o espectador tenha a sensação de estar dentro daquele estado remoto, um ambiente de 10 m², também abrigado no segundo pavimento do Pavilhão da Bienal, conterá moscas reais, “descendentes”, explica o artista, dos seres encapsulados na resina. Exemplares de Hermetia illucens (Linnaeus) e de Musca Domestica criados em laboratório por meio de parceria com o Instituto Biológico de São Paulo – e com consultoria do entomologista Sergio Ide, completam a peça de Huyghe sobre a evolução das espécies. Os visitantes da exposição poderão adentrar no local com insetos – ou, se preferirem, apenas observá-los através de uma janela de vidro.

Em uma época em que se tornou um terror para os brasileiros o perigo da dengue, do zika e de outras doenças transmitidas por mosquitos, o novo trabalho de Pierre Huyghe pode gerar debates também neste tema. “Estamos coexistindo com diferentes espécies”, diz o artista, que vive em Santiago, no Chile. “O zika está por toda a América do Sul, Caribe e agora em Miami”, comenta. Sem se lembrar do título do livro, o francês ainda destaca a leitura recente de uma publicação que narra o fato de insetos terem sido responsáveis por também “mudar o rumo da história” durante o colonialismo. “Ingleses e espanhóis, que pretendiam invadir regiões, tiveram de mudar seus acampamentos por causa desses animais.”

“É interessante colocar os insetos na Bienal, mas eles não carregam nenhuma doença, posso garantir”, afirma Huyghe. “Temos animais que chamamos de domésticos porque convivemos e dividimos ambientes com eles, assim como há animais dos quais queremos nos livrar, como aranhas e mosquitos. É muito interessante o fato de um ser tão diminuto se tornar algo a que temos de dar tanta atenção”, ressalta.

Ao mesmo tempo, faz parte da prática do artista Pierre Huyghe, de 53 anos, inserir seres vivos em suas criações. Na última Documenta 13 de Kassel, em 2012, o francês foi um dos destaques da exposição ao apresentar um “sistema vivo” no Parque Karlsaue da cidade alemã – em seu trabalho, uma escultura de uma mulher em repouso tinha um favo de abelhas ao redor de sua cabeça (o que já era uma imagem impactante), convivia como plantas, tartarugas e um cachorro com uma pata cor-de-rosa (que também participou da retrospectiva do artista realizada pelo Centro Pompidou de Paris e com itinerâncias para Alemanha e EUA).

Até mesmo pelo bom êxito de sua participação na Documenta 13, Huyghe pensou, primeiramente, em desenvolver para a 32.ª Bienal uma obra no Parque do Ibirapuera ou “ao redor dele”, como conta. “Estive em São Paulo há cerca de quatro ou cinco meses e planejei, originalmente, fazer algo fora do pavilhão”, explica. “Nos esforçamos para que acontecesse, mas, infelizmente, foi difícil encontrar um lugar em que se pudesse organizar um novo ecossistema no parque”, continua.

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“Não deu certo, não necessariamente por causa do ponto de vista técnico ou de aprovações, foi mais por conta de discussões artística e curatorial”, afirma o curador da 32.ª Bienal, Jochen Volz. “O trabalho de Huyghe em Kassel deixou uma marca extremamente forte e entendo que na Documenta ele criou uma ecologia entre os objetos encontrados, o lugar e os animais que levou para lá. Aqui, seu desejo era trabalhar um desdobramento tecnológico desse conjunto, uma certa bioengenharia que, pelo prazo, não teríamos como desenvolver ou nos dedicar a ponto de Huyghe ficar satisfeito.”

O francês, assim, resolveu “dar um passo para trás” e apresentar De-extinction – entretanto, com experimentações. Na 32.ª Bienal, que tem como título Incerteza Viva e como uma das questões o debate sobre a era denominada Antropoceno e a extinção da humanidade, a obra do artista se encaixa perfeitamente. “O que queremos discutir com a Bienal é a questão da vulnerabilidade do equilíbrio que vivemos, ameaçado por ações como o agronegócio, poluição, retenção das águas, a pesca”, enumera Volz.

32ª Bienal de São Paulo

 Intitulada ‘Incerteza Viva’, a edição será aberta para convidados em 6/9 e para o público em 7/9. Com a participação de 81 artistas e coletivos, a mostra ficará em cartaz até 11/12 no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera.

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