Phoenix é destaque na Barra Funda

Grupo francês faz rock sem firulas, mas público foi para ver She Wants Revenge

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Por Felipe Lavignatti
Atualização:

No mesmo dia em que o Police realizava seu show de volta ao Rio de Janeiro, São Paulo recebia o último grande festival musical do ano. Reunindo 4 mil pessoas no Memorial da América Latina, o Nokia Trends não se resumiu somente a um encontro de bandas. Propondo interação artística e sonora - nesta ordem - , o evento conseguiu fechar o ano repleto de festivais com uma experiência que foi além da música. Foram quase 11 horas de programação musical, arte multimídia e tecnologia montados em um espaço de 5.200 m2, sendo 90% de área coberta. Como a organizadora do evento leva o nome de uma marca eletrônica no nome, muito da interação da mostra Arte, Mobilidade e Interatividade instalada no festival servia como vitrine para a tecnologia de comunicação móvel. A grande atração artística, no entanto, não utilizava nenhum aparelho celular. Logo na entrada, ao lado de grafites em vidros, os artistas da Grafiteria fizeram a ponte entre o universo urbano de São Paulo e a proposta tecnológica do evento com o Urban Laser Design. Utilizando sensores de laser, os grafiteiros pintavam com diversas cores seus desenhos nas paredes, sem deixar marca alguma na construção do quase centenário arquiteto. No chão de concreto da entrada da tenda, considerado o lounge do festival, o público assistia a criação de cada desenho. Do lado de dentro, após um grande corredor com a mostra interativa, dois palcos se alternavam para receber as atrações musicais que fizeram do Nokia não só um evento multimídia. Com um atraso tolerável de apenas 30 minutos, as bandas se apresentavam em um palco e já eram substituídas pela seguinte no palco lateral, evitando as longas esperas que fizeram a má fama de outros festivais deste ano. Reunindo nomes pouco conhecidos no Brasil, o Nokia tenta fazer jus ao seu título de Trends (tendência). Das quatro atrações principais, a primeira a subir ao palco foram os australianos do Van She. Tímidos no palco, com um repertório curto e desconhecido, o grupo demorou para empolgar o público que ainda chegava ou que estava mais preocupado em se entreter nos espaços interativos. O Van She já declarou que tem como influência grupos como Sepultura e Phil Collins, mas ao vivo percebe-se que a referência só pode ser uma brincadeira do grupo. Com destaque para o baterista Tomek Archer, os australianos fazem um som dançante sem precisar usar muito os sintetizadores. Suas melodias calcadas nos anos 80 poderiam muito bem ser confundidas com qualquer banda pop, o que não desmerece em nada a apresentação, que ganhou um pouco mais de qualidade no fim, com o grupo já mais solto no palco. Se o Van She propunha um som dançante com guitarra, a atração seguinte do palco principal dispensou o instrumento para montar uma grande jam session de música eletrônica com auxílio de percussão, bateria, saxofone e baixo. O Underground Resistance, tido como um dos grupos mais politizados da música eletrônica americana, deixou de lado suas bandeiras para fazer simplesmente música. O som cheio de groove do coletivo ganha outra cara ao vivo, distanciando-se do rótulo puro de techno. Famosos por não mostrarem suas caras à imprensa, os músicos, todos de preto, pareciam estar ensaiando no palco, sem medo de esconder o rosto de ninguém. Não havia compromisso algum de fazer um show que refletisse o som de pista do grupo. O MC quase não cantou, resumindo sua participação em ficar apresentando os membros do grupo e lançar CDs para o público - de uma forma até um pouco perigosa para alguém mais distraído na platéia. O clima de jam session ganhou até um momento de total escuridão, com os músicos improvisando no escuro, enquanto a platéia se dividia entre o cansaço do improviso e as batidas dançantes. Dando uma pausa no lado dançante do festival, a atração seguinte foram os franceses do Phoenix. O grupo foi responsável por levantar o público pela primeira vez na noite com seu rock simples e direto. Destoando um pouco de toda a escalação do festival, o Phoenix mostrou grande disposição no palco, e foram responsáveis pelo melhor show. Um dos principais representantes da nova cena do rock francês, o Phoenix carrega pouco de seu país natal em seu som. Para muitos desatentos que foram ao Nokia Trends como um simples evento de sábado à noite, o grupo pode ter passado como americanos aportando no Brasil para mais um show. A identidade francesa só era lembrada nos ''''mercis'''' após uma ou outra música. De resto, um grupo que canta em inglês com uma paixão que não se resume ao palco. O vocalista Thomar Mars deve ter levado a sério um aviso na entrada do evento que recomendava interação e se jogou na platéia, onde cantou quase metade de uma música debaixo de muitos aplausos e ao som das guitarras sujas. Com a platéia ganha, o Phoenix deixou o palco para a volta do Van She, desta vez em sua roupagem eletrônica, preparando o público para a banda mais conhecida e uma das mais aguardadas atrações da noite, o She Wants Revenge. Apesar da longa duração do festival, o público resistiu até o final, e a dupla de Los Angeles fez sua apresentação para um público que não parou um segundo com os hits de seus dois únicos álbuns. Ao vivo, o She Wants Revenge ganha o reforço de mais dois músicos para emular o som calcados no pós-punk dos anos 80. O vocalista Justin Warfield incorpora um Ian Curtis de barba e touca para cantar, deixando somente a melancolia de sua referência de lado para se divertir no palco, tocando para um público que parecia conhecer cada uma de suas músicas. Após o show do She Wants Revenge, a dupla carioca The Twelves entrou para encerrar o festival, após quase 11 horas de música, interatividade, eletrônica e arte.

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