Para crianças: o ano dos autores

Nova safra de dramaturgos renova com talento e criatividade os palcos vespertinos em 2007

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Por Redação
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Dib Carneiro Neto Sim, por incrível que pareça, foi o ano dos autores. A velha ladainha de que não há gente nova escrevendo para teatro infanto-juvenil está prestes a ser silenciada para sempre, se depender do que se viu nos palcos vespertinos de São Paulo em 2007. Ao talento de Vladimir Capella, um veterano que sempre se renova e que, no ano que se encerrou ontem, nos brindou com mais duas eficientes adaptações (Tristão e Isolda e A Flauta Mágica), juntam-se agora os nomes de outros dramaturgos. A dramaturgia para crianças está, enfim, em um período fértil. CLÁUDIA VASCONCELLOS - Já há um par ou mais de anos, esta competentíssima dramaturga vem fincando estacas no teatro para crianças. Desta vez, brilhou com O Tesouro do Balacobaco, aventura ?geográfica? muito bem arquitetada e com personagens encantadores. MARCUS VINICIUS DE ARRUDA CAMARGO - Este jovem promissor completou em 2007 o que batizou de sua "Trilogia do Muro". Já havia escrito e dirigido Desce do Muro, Moleca (1996) e Um Jeito Assim... (1998). Agora ?aprontou? o divertido Ervilha Sapo Junior, para a mesma faixa etária que ele gosta de atingir: 7 a 12 anos. Domina a linguagem teen como poucos. SERGIO ROVERI - O versátil dramaturgo, de talento já reconhecido pelo público adulto, foi uma das boas aquisições do teatro infanto-juvenil em 2007. E, melhor ainda, em dose dupla. Para a garotada, escreveu O Dia da Criança, deixando a imaginação correr solta numa história movimentada de realeza. Para os jovens, proporcionou Cidadão de Papel, adaptando com ritmo e inventividade um livro de Gilberto Dimenstein que trata de temas ligados ao universo adolescente. CARLA CANDIOTTO E ALEXANDRA GOLIK - Não bastasse serem uma dupla afinadíssima de atrizes e diretoras, Carla e Alexandra prosseguem se superando a cada adaptação de clássico que escrevem a quatro mãos. Quem viu Peter Pan e Wendy vibrou com os qüiproquós e o corre-corre de vaudeville, tudo isso sem descuidar dos diálogos. MILTON MORALES FILHO - Personagens intrigantes em situações intrigantes. Bebendo na sabedoria de Lewis Carrol, o autor foi considerado o melhor do ano, pelo júri da Associação Paulista dos Críticos de Artes, com o seu arrebatador O Cadarço Laranja, para crianças que não têm medo de mergulhar no desconhecido. MARCELO ROMAGNOLI - O mundo é duplo e não há como entendê-lo sendo apenas homem ou mulher. Partindo dessa premissa aparentemente ?cabeluda?, o criativo autor realizou uma proeza para crianças chamada O Menino Teresa e apresentada pela Banda Mirim. LUIS ALBERTO DE ABREU - O tarimbado dramaturgo da Fraternal Cia. realizou em Auto da Infância um feito de mestre: escreveu uma rica saga procurando tocar em todos os temas sensíveis relacionados ao rito de passagem da infância para a adolescência. PEDRO GUILHERME - Logo no início do ano, uma deliciosa surpresa: Todo Bicho Tudo Pode Sendo o Bicho Que Se É. Clareza, simplicidade e diversão se aliam sem estereótipos, numa história protagonizada só por bichos. G. PETEAN - Mais um jovem adaptador que demonstrou ousadia ao recontar um clássico. Em Um Patinho Feio, ele fez o dito cujo, que dá nome à história de Andersen, saber desde o começo que é cisne. Só que ninguém acredita nele. Grande sacada e ótima realização. ÂNGELO BRANDINI - E por falar em ousadia de adaptador, este aqui teve a maravilhosa coragem de contar para crianças a tragédia do mouro Otelo e sua amada Desdêmona, com ingredientes como ciúme e morte, como só Shakespeare soube temperar. Em Othelito, atores-palhaços usam a linguagem de comedia dell?arte, apoiados por um texto seguro. PETRÔNIO NASCIMENTO - Outro bom autor que soube usar as máscaras da commedia dell?arte para brilhar com As Estripulias de Fígaro. MARÍLIA TOLEDO - O Doente Imaginário foi diversão para toda a família, graças ao talento desta adaptadora de Molière - que também bebeu na fonte da commedia dell?arte. RENATA FLAIBAN - Graça muito bem alinhavada em Mãe D?Água, uma compilação cuidadosamente pesquisada de histórias universais de sereias. CELSO CORREIA LOPES - Com Hugo, os Imaginários e a Cidade do Medo, o autor mergulhou fundo, mas com muita aventura, num tema delicado: quem é que nunca teve um amigo imaginário? CRIS MIGUEL E SÉRGIO SERRANO - A dupla conseguiu criar um ágil espetáculo sobre iniciação musical, Raimundo e a Menor Banda do Mundo. CLOWNS DE SHAKESPEARE - Eles chegaram de mansinho de Natal, no Rio Grande do Norte, e, com um espetáculo que viaja pelo País desde 2006, Fábulas, arrebataram público e crítica de São Paulo no fim de 2007, sobretudo por conseguirem dar vida nova a contos de La Fontaine e Esopo, recolhidos por Lobato. OS Dez Mais DE 2007* (peças em ordem alfabética) O CADARÇO LARANJA: Teatro da Gioconda CIDADÃO DE PAPEL: Projeto Satyros Educação O DOENTE IMAGINÁRIO: Companhia da Revista FÁBULAS: Grupo Clowns de Shakespeare (Natal - RN) O MENINO TERESA: Bda. Mirim OTHELITO: Vagalum Tum Tum PETER PAN E WENDY: Cia. Teatral Le Plat du Jour RAIMUNDO E A MENOR BANDA DO MUNDO: Òpera na Mala O TESOURO DO BALACOBABO: Cia. Bendita Trupe TRISTÃO E ISOLDA: V.Capella * avaliação feita exclusivamente pelo crítico Dib Carneiro Neto

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