Papéis do cotidiano inspiram mostra no Sesc Ipiranga

Parceria leva acervo iconográfico do Museu Paulista, com itens do século XIX aos dias atuais, ao Sesc

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Por Pedro Rocha
Atualização:

Uma embalagem que você pode ter jogado fora anos atrás é, agora, uma das várias atrações de uma nova exposição no Sesc Ipiranga, que busca explorar a efemeridade do dia a dia. A mostra Papéis Efêmeros: Memórias Gráficas do Cotidiano, que abre nesta quarta-feira, 9, na unidade, é uma parceria com o Museu Paulista, da Universidade de São Paulo, que cedeu peças de seu acervo iconográfico, retirado do Museu do Ipiranga para a reforma do prédio. 

São rótulos de refrigerantes, papéis de bala, santinhos, livros de receita e outros artigos gráficos que compreendem um período de 1890 aos dias atuais – até mesmo catálogos de moda da extinta loja Mappin, na Praça Ramos de Azevedo, dos anos 1920 poderão ser folheados digitalmente. “O museu tem a linha de trabalhar a conservação patrimonial a partir do cotidiano”, explica a diretora do Museu Paulista, Solange Ferraz de Lima, que assina a curadoria junto ao designer Chico Homem de Melo. “Trabalhamos para despertar a percepção das pessoas de que o que elas têm em casa é importante.”

Rótulos de refrigerante presentes na exposição 'Papéis Efêmeros', com o acervo do Museu Paulista no Sesc Ipiranga. Foto: Tiago Queiroz

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Foi por esse objetivo, já antigo, do museu que, por meio de uma reportagem de TV sobre o assunto, em 2003, o colecionador Egydio Colombo (1955-2013) resolveu doar ao museu seu acervo, com mais de 5 mil itens. Sua coleção foi o principal motor para esta nova exposição, que soma 500 artigos de várias coleções, incluindo de outras famílias, que podem doar artigos ao museu. Dividida em três diferentes núcleos, a mostra explora os aspectos culturais, educativos e de consumo no Brasil em mais de 100 anos. Uma seção especial contextualiza com o internacional, a partir de obras como um cartaz feito por Andy Warhol para o Festival de Cinema de Nova York em 1967. 

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Os organizadores trabalharam ainda com dois temas transversais, que se relacionam com as técnicas de impressão e design, como a litografia e a tipografia. Algumas das peças em exposição, vindas de coleções de famílias, como cartões de Natal ou santinhos, podem estar indo à público pela primeira vez. “São efêmeros que passaram nas mãos de muitas pessoas antes de chegar ao museu e que depois de foram tratadas e higienizadas”, explica Simone. “Lá, ganham uma ficha catalográfica.” Apesar de contabilizar em metros o acervo iconográfico do museu, ela acredita que o número final seja em torno de 300 mil peças. 

Álbuns de figurinhas e materiais de desenho antigos integram exposição'Papéis Efêmeros', no Sesc Ipiranga. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“O museu é um tesouro a ser descoberto”, opina Chico, que ficou responsável pelo trabalho de “garimpar” o que iria para a mostra. “Foram meses de trabalho.” Designer, Chico se viu surpreendido pela quantidade de referências à prática do desenho nos arquivos de educação, que incluem cartilhas, jogos, álbuns de figurinhas e materiais para os rabiscos infantis. “É impressionante como havia um incentivo muito maior à práticas de desenho do que se tem hoje.”

O curador atenta ainda para técnicas presentes na seção de consumo, em espaços limitados nas caixas de fósforo ou papéis de bala. “Tem a ver com a atual publicidade das mídias digitais, feita em espaços pequenos.” Alguns detalhes foram selecionados por ele para serem ampliados para a decoração da exposição. “São abstrações geométricas, com grande diversidade. Coisas que você joga fora, mas que quando vê aqui é legal.”

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Chico Homem de Melo, curador da exposição 'Papéis Efêmeros' no Sesc Ipiranga. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Museu do Ipiranga firma parcerias até sua reabertura

A parceria do Museu Paulista com o Serviço Social do Comércio deve acontecer em outras ocasiões até, pelo menos, 2022, quando o edifício do Museu do Ipiranga, no Parque da Independência, fechado desde 2013, deve reabrir ao público. “Pretendemos continuar com esses recortes do acervo, com curadores convidados”, afirma a diretora do museu, Solange Ferraz, que é otimista quanto à reabertura para a comemoração do bicentenário da Independência. 

Atualmente, o projeto de reforma do prédio está sendo discutido com os arquitetos. As obras devem começar no ano que vem. Nas próximas semanas, a desocupação do prédio deve ser totalmente concluída, com a transferência do último lote de objetos, que incluem mais de mil peças, como carruagens e carros. “Estamos com o projeto na Lei Rouanet, tudo vai depender do aporte e da colaboração da sociedade.”

A documentação textual e a biblioteca do Museu do Ipiranga já deixaram o edifício, e agora se dividem em três prédios localizados nas proximidades do parque. 

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