Palma de Ouro a Michael Haneke ainda divide opiniões na França

Imprensa suspeita que presidente do júri, Isabelle Huppert, favoreceu diretor austríaco, seu grande amigo

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Por Luiz Carlos Merten
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Embora pressionada por jornalistas de todo o mundo na coletiva do júri, após a premiação no 62º Festival de Cannes, a presidente Isabelle Huppert negou que tenha favorecido seu amigo Michael Haneke, atribuindo a Palma de Ouro a A Fita Branca. "Non, non, non", dizia Isabelle, mas anteontem mesmo a imprensa francesa ainda repercutia suas escolhas - e seu comportamento à frente do júri. Isabelle teria sido (foi?) uma presidente autoritária, que fez seus colegas conhecerem o inferno, durante as quase duas semanas que durou o evento. Ela se vestiu de branco para a grande noite final, e isso tanto podia ser um anúncio antecipado de que o austríaco Haneke levara o prêmio - referência ao título do filme -, mas também poderia ser um sinal de paz endereçado a seus colegas jurados, após tantas deliberações que a imprensa daqui chamou de ?ourageuses? (tempestuosas). Neste sentido, é interessante comparar com a ?outra? Isabelle, a Adjani, que se vestiu de tons escuros para entregar a Caméra d''Or, a Palma de Ouro para o melhor filme de diretor estreante, atribuída a Sansão e Dalila, do australiano Warwick Thornton. Isabelle Adjani estava linda, calorosa. Huppert foi glacial e parecia tão determinada a dizer que estava dando a Palma a Haneke, seu diretor em A Professora de Piano - pelo qual foi premiada melhor atriz em Cannes -, que quebrou o protocolo e ela própria entregou o troféu ao diretor austríaco. Em geral, o presidente do júri anuncia o vencedor, mas a Palma é entregue por alguma celebridade francesa (ou internacional) presente na Croisette. Boa parte da imprensa da França reclamou da ausência de The Time that Remains, de Elia Suleiman, do Palmarès. Outros reclamaram do prêmio de direção atribuído ao filipino Brillante Mendoza, por Kinatay. O crítico do Le Figaro rotulou o filme de "insuportável" e acrescentou que Et Bientot le Vide nada ganhou porque o júri preferiria premiar o "Gaspar Noë" das Filipinas. A vitória de Mendoza teria sido uma composição do júri para satisfazer o cineasta turco Nuri Bilge Ceylan, grande defensor de Kinatay. E James Gray foi o mais descontente de todos - era evidente a insatisfação do diretor de Two Lovers, resta saber onde ela residia, exatamente. Anteontem, a imprensa continuou repercutindo o festival. Le Figaro deu duas páginas, mais a capa de Le Figaro et Nous (similar ao Caderno 2) às belas da Croisette. Quem foram as mais elegantes? Robin Wright Penn vestindo Elie Saab na abertura e Chanel no encerramento, Sharon Stone em Dior, Melanie Laurent em Yves Saint Laurent e Charlotte Gainsbourg, melhor atriz (por Anticristo, de Lars Von Trier) em Balanciaga. Cannes, sem glamour, não seria o maior festival do mundo.

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