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Pais fora de série

Foto do author Pedro  Venceslau
Por Julia Duailibi e Pedro Venceslau
Atualização:

GRÁVIDOS DE NOVO Vasco da Gama, 37, e Júnior de Carvalho, 45, são populares em Catanduva, onde comandam um salão de cabeleireiros. Casados há 16 anos, a vida dos dois mudou radicalmente em 2005, quando se tornaram o primeiro casal gay do Brasil a registrar uma criança como filha. Não sem antes passar por uma via sacra. Na certidão de nascimento de Teodora, adotada com 4 anos, consta o nome dos dois pais. Agora, aos 7, ela se prepara para a chegada de uma irmãzinha. "Estamos grávidos de novo", comemora Vasco. Como vai ser a comemoração do Dia dos Pais? É o terceiro Dia dos Pais que passamos juntos. Saí com a Teodora e comprei o presente do Júnior. Depois, ele saiu com ela e comprou um presente para mim. Ela guarda segredo. Aí, no Dia dos Pais, entrega para a gente. E o Dia das Mães, vocês comemoram? Também. A Teodora tem uma madrinha que considera uma mãe. Então a gente faz a festa com ela. Mas as pessoas acabam cumprimentando a gente pelo Dias das Mães também. Como vivemos os dois, percebo que o Dia das Mães tem mais ênfase que o dos pais. Como é Teodora na escola e a relação dela com as outras crianças?Ela tem só sete anos. Essa molecada ainda não tem maldade e entende a situação, em função da exposição do caso na mídia. Os amiguinhos acabaram aceitando numa boa. Os conceitos que estão sendo formados, hoje, são outros. Na escola, ela diz que se acha diferente. Fica esnobando, já que todo mundo está fazendo um presente, e ela está fazendo dois (risos). Ela faz muitas perguntas? Entende a relação entre vocês dois? A gente sempre conversou muito com ela. Explicamos a adoção, que ela viria para cá, que a juíza teria de aceitar, e também a questão da homossexualidade. Explicamos que ela tem dois pais e que não podíamos ter filhos. Então, dissemos que o papai do céu arrumou dois pais para ela e uma filha para nós. Ela convive com nossos amigos, participa de paradas GLBT. Explicamos que as pessoas podem ser o que querem. Como é a relação de vocês com os outros pais na escola? Normal. Nunca sofremos nenhum preconceito. A Teodora também não. Os pais adoram ela. Temos credibilidade na cidade. Sempre promovemos eventos, concursos de criança. Todo mundo curte ela para caramba. Estou agora preparando um convite de aniversário para mandar para os amiguinhos dela. E ela é sempre convidada para aniversários de crianças. Se existisse preconceito, isso não aconteceria. Vocês quebraram alguns paradigmas ao adotar Teodora. Isso terá reflexo na educação dela? Vocês são liberais ou mais tradicionais? Somos bem tradicionais. A Teodora tem as regras dela. E, futuramente, vai ter horário para chegar em casa. E nada de namorar no portão! Aqui em casa será tudo à moda antiga. Tanto eu como o Júnior somos a raspa do tacho de nossas respectivas famílias, os caçulas. Nossos pais nos educaram à moda antiga e estamos passando isso para a Teodora. Mas é lógico que temos outros conceitos, afinal os tempos são outros. No dia-a-dia, que tipo de censura vocês impõem à Teodora? Não deixamos que ela assista a programas que têm briga, violência e a desenhos que estimulam a agressividade. E ela nem gosta. Muda logo o canal. Prefere outros tipos de desenho. Como foi o processo de adoção? Eu e o Júnior estamos juntos há 16 anos. Em 98, convivemos um tempo com um menino de 3 anos e isso despertou essa coisa de paternidade. Ele não tinha pais, ficava na guarda de uma senhora. A gente revezava. Mas ela precisou mudar, e foi embora com o menino. Foi quando descobrimos que queríamos uma criança em casa. Quando fizeram o pedido? Em 98. O juiz negou, alegando que se tratava de um relacionamento anormal. Então resolvemos nos preparar melhor, compramos uma casa. Em 2004, entramos com um novo pedido de adoção e o mesmo juiz deixou a gente na fila. Como ele era muito preconceituoso, achamos que nunca conseguiríamos. Mas aí teve uma mudança e entrou uma juíza com outra cabeça. Depois de seis meses, a Teodora chegou. Ela teve acompanhamento psicológico? No começo, havia psicólogos e assistentes sociais. Eles nunca tinham acompanhado um caso assim. Fizeram muitas perguntas. Agora, não tem mais. Como é a divisão de tarefas? Um faz o papel de pai, outro de mãe?Um pouco. Há uma divisão natural. O Júnior cuida mais da casa, enquanto vou para o salão. Ele prepara a menina para ir à escola, dá banho e tal. Mas também é mais bravo. Eu cedo mais às manhas dela. Ontem, por exemplo, ela não queria dormir. Queria porque queria mamadeira, mas tinha acabado de jantar. Ela não está grandinha para mamadeira? É tão prático. Não acho ruim... Eu mesmo tomei guaraná e suco na mamadeira até os 14 anos. E a família de vocês? É uma família tradicional, com avó, avôs e tudo o mais. A única diferença é que são dois homens vivendo juntos. Tão tradicional que ela está querendo uma irmã e já estamos nos preparando para entrar com outro processo de adoção no começo do ano que vem. Queremos uma menina de 2 a 5 anos. E já temos um bom nome: Angelina. Então quer dizer que vocês dois estão grávidos de novo? Grávidos? É por aí...(risos) PAPAI É PUNK O apresentador João Gordo, 44, já foi "mais doidão que Amy Winehouse", segundo suas próprias palavras. Mas se casou, teve dois filhos e se tornou "pai de família". Ícone do movimento punk dos anos 80 e um dos apresentadores mais populares da MTV, ele tem os nomes dos filhos tatuados nas mãos. Apesar da fama e do jeito, ele é um pai severo, que chega a poribir até o uso de videogame. Quantos filhos você tem? Dois. O Pietro de 3 anos e a Vitória de 4. Depois dos filhos, o seu comportamento mudou? Cara, a paternidade muda muito a pessoa, tomei jeito depois deles. Cheguei à conclusão de que estou aqui só para isso. É a lei da vida. Não existe prazer maior que ver a sua cara, sua carne, o seu rosto ali... O resto é detalhe. Sou um pai presente. Troco fralda, levo para escola, faço tudo. Você se considera um formador de opinião? Um exemplo para os jovens? Não me considero, eu sou. Esse patamar é meio f... Tenho que tomar cuidado. Qual a sua mensagem? Sou um produto típico dos anos 80. Nasci em 1964 na periferia, no ano da revolução. Parei de estudar no segundo colegial. Não sou um cara letrado nem intelectual, mas sou informado. Às vezes, me acho mau exemplo, mas não. Sou um cara que era muito doido e deu a volta por cima. Hoje estou bem menos doido. Afinal, virei um pai de família. Virou um paizão, um cara careta?Estou menos doido (risos). Minha família parece a Família Adams. Um pai como eu, cheio de tatuagens, que canta em banda Hard Core, fala palavrão, tem programa na TV e coleciona brinquedo... É bem fora dos padrões. Você libera o videogame? Parei de jogar por causa dos meus filhos. Eles são muito jovens para ficar viciados nessa m... Vai atrapalhar a escola. Depois que virou pai, seu conceito sobre as drogas mudou? As drogas têm um lado bom e outro ruim (risos). Não aconselho ninguém a começar a usar. Se meus filhos lerem minhas entrevistas antigas... Eu disse coisas descabeladas. Era um retardado. Foi um momento da minha vida. Não defendo a legalização, não. Até porque, se legalizar a maconha, ela perde a qualidade (risos). E droga química é muito, muito perigosa. Você teve um período trash... Sabe a Amy Winehouse? Fui pior que ela. Usava todas as drogas, tudo misturado. Quase morri. Chegava a tomar dez ácidos. A chegada da minha esposa foi um divisor de águas na minha vida. Ela cuida de mim. Como se conheceram? Foi na Argentina, em 1995, no show do Ratos de Porão. Ela era repórter da revista Metal. Em 2002, quando sofri a segunda overdose, ela se declarou. Deve ter pensado: "É melhor falar logo antes que ele morra". Estamos juntos há sete anos, e os nossos dois filhos foram planejados. Você apresenta o "Fundão", um programa só com molecada. A gente pega uns moleques burros e zoa com eles. Apesar de ser tudo molecada de colégio bom, não sabem a capital de nenhuma cidade. Quanto mais informação essa molecada tem, menos aprende. Na minha época, eu devorava enciclopédia. Hoje, eles têm tecnologia, mas são tapados. Gosta das escolhas musicais da MTV? A MTV é ruim demais. Hoje só aparece "emo". Não tem uma moçada que manja de som. Você fala isso assim? Se quiserem me mandar embora, que mandem. Tenho 12 anos de MTV. A parte musical é escrota. PEDRO VENCESLAU E MARÍLIA NEUSTEIN

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