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Otários ou espertos demais?

Por Nelson Motta
Atualização:

Qual é o melhor lugar para investir? Onde haja matéria-prima boa e barata, mão-de-obra qualificada, rede de distribuição eficiente e um grande mercado consumidor. Certo? Se acreditasse nisso eu investiria até o meu último centavo em futebol no Brasil. E quebraria. Faltam-me informações dos subterrâneos, meandros, bastidores, esgotos, ralos e livros-caixa do futebol brasileiro para tentar explicar, mas espero que os colegas especializados possam me dar algumas respostas para a pergunta que não quer calar: por que o futebol no Brasil não dá dinheiro? Claro, dinheiro deve dar, e muito, mas para quem? Não para os clubes, pelo menos para que possam manter seus times e orçamentos equilibrados e, no mínimo, apresentarem gramados decentes para a prática do esporte-negócio. Não faltam patrocinadores, emissoras de rádio e televisão, colossal promoção gratuita na mídia, estádios capazes de gerar boas bilheterias, mas ... A Juventus, que é o time mais popular da Itália, tem cerca de 9 milhões de torcedores, seguido da Inter e do Milan, com cerca de 4,5 milhões cada um. Uma mixaria perto de Flamengo e Corinthians, ou mesmo de Vasco, São Paulo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Bahia, e no entanto ... Como a economia da Itália não anda bem há algum tempo, foi até ultrapassada pela Espanha, e com o crescimento da classe média e do poder aquisitivo dos 180 milhões de brasileiros, deveria ser cada vez menor a distância que separa, econômica e esportivamente, o futebol italiano do brasileiro. Mas estamos cada vez mais longe dos estádios lotados com gramados impecáveis, onde craques e grandes equipes se exibem para o mundo e faturam milhões de euros para si e para seus clubes. No país do futebol, os clubes continuam encalacrados, os jogadores mais talentosos saindo em busca de melhores salários e condições de trabalho. Mas não é culpa deles. Que mágicas os dirigentes nacionais fazem para produzir tantos prejuízos, não sei, mas desconfio que os gramados carecas e esburacados, a mais completa tradução de nosso futebol, devem-se ao vício da cartolagem de usá-los como pasto.

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