Os verdes anos de Vera Fischer

Atriz relata sua infância, até os 14 anos, na biografia Vera, a Pequena Moisi, que autografa hoje no Rio

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

A repórter chega à cobertura de Vera Fischer, no Leblon. Na sala, dá de cara com a parede coalhada de quadros pintados pela atriz. Dois minutos depois, ela aparece. A deusa sorri - mas não é só ensaio para as fotos que virão a seguir. Vera diz que está feliz, e parece feliz, de fato. Aos 56 anos recém-comemorados, plantou uma árvore, deu à luz dois filhos e escreveu um livro. Um, não, três! O primeiro deles ela lança hoje, pela Editora Globo, na Livraria da Travessa, no Rio. A autobiografia (ela prefere chamar de diário) Vera, a Pequena Moisi (Editora Globo, 200 págs., R$ 29 ) - apelido que ganhou dos pais alemães quando criança, que soa como "ratinho" na língua deles -, decepciona quem está em busca de detalhes de sua conturbada vida, relatos sobre noitadas regadas a álcool e drogas (há muito extintas), histórias de bastidores de novelas e confissões sobre seus (ruidosos) relacionamentos amorosos. Já para os que têm curiosidade sobre os anos que precederam o concurso de Miss Brasil que a alçaria à fama é leitura leve e até saborosa, que não dura mais do que três horas. Prefaciado por Flavio Marinho, o livro - que, para o dramaturgo, mostra como "os anos verdes influenciaram os anos maduros" do furacão loiro -, vai até seus 14 anos, bem antes de a jovem catarinense ficar conhecida por sua beleza no País todo. Fala de sua rica convivência com os pais, a avó e a tia, das travessuras com as amigas, da paixão pelos Beatles e por Ingrid Bergman, do primeiro beijo, aos 13 anos (dado num garotinho que namorava outra). Os 29 capítulos foram escritos em diferentes épocas em cadernos pessoais e reunidos sem que haja uma ordem cronológica. Todos são recheados com lindas fotos, da Vera mãe, filha, neta, símbolo sexual. Entre relatos sobre a família e declarações de amor aos filhos, Rafaela, de 27 anos, que mora com ela, e Gabriel, de 14, que vive com o pai, Felipe Camargo, e o modo nada ortodoxo com que os criou (ela afirma ser contra a imposição de qualquer tipo de limite), o leitor se depara com frases que podem ser do escritor Oscar Wilde ou do personagem Buzz Lightyear, de Toy Story. E ainda listas de filmes e livros preferidos e reflexões próprias sobre sua personalidade. Ela logo se revela: "Gosto de mitologia, de fadas, duendes, demônios, anjos, deuses, espaços, movimentos. (...) De romantismo, poesia, de coisas preciosas, do sempre, dos contos das mil e uma noites. Serei Sherazade porque mil histórias vou inventar. Para não morrer? Sim, para não morrer." Sobre sexo, conta que, depois de ler Sade e Henry Miller percebeu que o sexo está "aliado às maldades, às perversões, às maldições". Mais adiante, garante: "Sou a mais feliz das mulheres que conheço. Só por existir. Não sei se me nasceram ou se eu me nasci. Acho que quis nascer." Na entrevista que deu ao Estado, na quinta-feira passada, a atriz, que está sem namorado há tempos (adoraria ter alguém que lhe dissesse "eu te amo") e pretende voltar ao teatro em breve, diz que escreveu tudo sem mostrar a ninguém. "Gabriel leu a primeira página, e adorou", pontua. Vamos a ela (ao trecho que fala de uma sessão de fotos para a Playboy, há sete anos, em Paris): "Um lindo casaco de peles cobria meu corpo. E mais nada. Lá embaixo, carros, transeuntes, bicicletas, ônibus. Todos iam e vinham. Eu só de olho. Na hora em que eu arrancasse o agasalho seria um deus-nos-acuda. Não deu outra." Lá pelo meio do livro, relembra os anos de rebeldia da adolescência. Ao falar do pai, diz que "ele não entendia eu ser menina e ter iniciativa masculina. Por isso me batia. E muito". Por ter saído com um "namoradinho", na adolescência, chegou a levar um soco no rosto. "Eu subi para o quarto e escrevi no meu diário: ?Vou matar meu pai?. Não precisei fazê-lo. A vida se encarregou disso. Ele morreu de câncer." Os outros dois livros de Vera ainda não têm editora. O segundo, que ela pretende lançar no meio de 2008, será uma continuação da autobiografia, enfocando o concurso de miss e sua vida a partir de então, a carreira de atriz, os casamentos com Perry Salles e Felipe Camargo (com quem ela conta ter ótimo relacionamento hoje em dia, a ponto de mandar presentes até para sua namorada). O terceiro é um romance. "Eu achei que as pessoas não iam se interessar pelo meu livro, porque ninguém gosta de saber da infância das pessoas, mas quem leu até agora curtiu. As pessoas vão me conhecer melhor", ela acredita, ao falar de Vera, a Pequena Moisi. Sim, Vera está feliz. Depois de tantos altos e baixos, concluiu, como diz no livro, que "a vida é atroz, mas também é boa, é para ser bem vivida".

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