Com mais de 500 pessoas presentes, o jantar organizado na noite de terça para arrecadar verba para a Bienal de São Paulo foi marcado por um clima de otimismo. Experimentando um modelo de maior envolvimento - e responsabilização - da elite financeira para com suas instituições culturais, a nova direção da entidade procurou demarcar claramente a linha divisória entre o passado, de escândalos e crises, e o momento atual. Uma espécie de choque de gestão com o objetivo de sanear a casa e viabilizar novos caminhos para a instituição cinquentenária.Além da venda dos convites, a R$ 2,5 mil cada um, a Bienal também conseguiu apoio decisivo do Governo Federal. Abrindo as comunicações da noite, o ministro Juca Ferreira foi muito aplaudido ao anunciar que estava destinando R$ 4 milhões para o custeio da reforma do prédio, primeiro dos muitos desafios concretos a serem enfrentados pela nova administração. Ausência de saídas de incêndio, inadequação às normas internacionais de exposição estão entre algumas das dificuldades que se pretende resolver com a reforma. Mas o maior desafio que se coloca para a equipe que assume a instituição é a de conseguir conciliar a necessidade de se criar um modelo de longo prazo com a meta de realizar uma mostra de impacto, ainda no próximo ano.Como, em tão curto prazo, conseguir solucionar problemas graves como a "crise de identidade, o desgaste da imagem, as restrições orçamentárias, o envelhecimento do modelo de gestão" - todos tópicos relacionados pelo presidente Heitor Martins durante sua exposição -, reformar o prédio e ainda conseguir abrir em 21 de setembro de 2010 uma Bienal que ajude a recolocar o País no pelotão de destaque das grandes mostras internacionais? Esta talvez fosse, além das expressões de alívio, a principal questão colocada pelos colecionadores, galeristas, gestores culturais e artistas que transitavam pelo imponente vão central do prédio criado por Niemeyer e transformado num sofisticado salão de jantar e lounge por Felippe Crescenti (responsável por todo o projeto gráfico da Bienal a partir de agora).E poucas foram as pistas fornecidas pelos conselheiros, direção e equipe curatorial até o momento. Do ponto de vista organizacional, Martins estabeleceu algumas metas: atingir 1 milhão de visitantes, manutenção da entrada gratuita, fortalecimento do projeto educativo (a cargo de Stella Barbieri, responsável pelo mesmo setor no Instituto Tomie Ohtake), internacionalização da mostra e criação de uma plataforma para o desenvolvimento da arte contemporânea. Já o projeto curatorial ainda não está pronto, ou está sendo mantido a quatro chaves, com os convidados tendo direito apenas a declarações bastante genéricas sobre a importância da arte por parte do curador Moacir dos Anjos.Do ponto de vista estratégico, talvez a fala de maior relevância tenha sido a importância atribuída por ele à necessidade de um planejamento de longo prazo, de definição de um perfil de ação para a Bienal que não se atenha à organização esporádica de exposições. "A Bienal não é um evento só", afirma Laymert Garcia, que assume uma das direções da Bienal como representante do Ministério da Cultura e que vê com grande entusiasmo a sintonia entre as duas instituições.Nem tampouco é um evento exclusivo de um determinado grupo. Seja por meio do apoio, financeiro e simbólico, da burguesia, seja pela conquista da simpatia dos artistas, a tentativa de ampliar o círculo de debates é evidente. O marchand Peter Cohn disse jamais ter visto um grupo de investidores ligados à arte tão bem representado (segundo a organização, os convites acabaram em 20 dias). E também chamou atenção a estratégia de convidar 50 nomes de destaque da arte contemporânea, por intermédio do patrocínio do Banco Fibra, que assumiu o custo dos convites.A artista Nazareth Pacheco, que já trabalhou em várias bienais, é uma defensora incondicional da nova direção. Assim como o curador do Masp, Teixeira Coelho, que afirmou estar presente ao jantar não como representante da instituição na qual trabalha, mas sim para testemunhar seu apoio pessoal.